Mestre e Doutora em Ciências da Educação, Professora Auxiliar da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP), Membro do Centro de Investigação e Intervenção Educativas (CIIE)
Medi@ções. Revista Online da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal. Vol 7, n. 1, p. 75-89 • por Orquídea Coelho A profissão de intérprete de língua gestual: estudo sobre avaliação
O intérprete de língua gestual portuguesa (ILGP) é o profissional que contribui para a eliminação de barreiras linguísticas e aproxima os mundos surdo e ouvinte, em diferentes campos, nomeadamente linguístico e cultural. O tema da avaliação, ainda que polémico e de contornos variados, assume-se como um componente basilar. No caso particular dos ILGP, essa temática é emergente, mas são ainda escassos os estudos que lhe dedicam atenção. O nosso estudo foca a avaliação, considerada como estruturante e capaz de contribuir para regular a atividade profissional do ILGP. Com vista a trazer alguma luz sobre o processo avaliativo, partimos de um instrumento criado para a avaliação do desempenho do ILGP, intitulado “Avaliação de Desempenho e Qualidade de Intérpretes” (ADQI) desenvolvido por Simões (2011) e aplicámo-lo, junto de cinco intérpretes, tendo, para o efeito, adotado um conjunto de procedimentos metodológicos sequenciais. Os resultados obtidos remetem-nos para o reconhecimento e a importância da existência de um processo de avaliação, bem como para a adequação de um trajeto de redefinição do exercício da profissão em contexto escolar, o qual abrange a maioria dos intérpretes profissionais em Portugal.
In Silvia Andreis-Witkoski, Marta Rejane Proença Filietaz (Orgs.), Educação de Surdos em Debate, pp. 129-145. Curitiba (BR): Ed. UTFPR. • por Orquídea Coelho Crianças Surdas Implantadas, Trabalho Pedagógico e Envolvimento Parental numa Perspectiva de Educação Bilingue
Cadernos de Educação, FaE/PPGE/UFPel, Pelotas [36]: 197-221 • por Orquídea Coelho Da lógica da justificação à lógica da descoberta. Ser surdo num mundo ouvinte: um testemunho autobiográfico
O nosso tema de análise é uma história de sucesso de um surdo, através do seu testemunho autobiográfico. Como muitas outras histórias de vida, esta dános conta de qualidades humanas como a persistência, a dedicação, ou uma imensa vontade de contornar e vencer osbtáculos. Mas, como iremos descobrir, neste caso, o nosso “protagonista” tem vindo a travar também, desde muito cedo, e ao longo de toda a sua vida, uma luta e vigilância atentas e permanentes, apenas possíveis de sustentar mobilizando elevadas doses de esforço e empenhamento e, ainda, abdicando de alguns dos seus direitos existenciais e de cidadania. A reflexão proposta em torno deste testemunho procura salientar alguns destes aspectos, e equacioná-los, à luz da situação de uma expressiva maioria de muitos outros surdos, que continuam a não ter acesso a uma educação condizente com as suas especificidades culturais e linguísticas, que continuam a não chegar à Universidade, a não aceder a uma Formação Profissional qualificante, a não ter direito a uma vinculação profissional, à independência econômica, social e afectiva, e a uma vida plena enquanto cidadãos.
Educação, Sociedade & Culturas, (22), 153-181 • por Orquídea Coelho Formação de Surdos: Ao Encontro da Legitimidade Perdida
Neste artigo abordamos um pouco da história da educação dos surdos e da sua luta pela emancipação, pela igualdade de direitos, pelo pleno reconhecimento da suas línguas maternas, as Línguas Gestuais, pelo direito a serem portadores e produtores de uma cultura própria, a construírem uma identidade surda, e a assumirem, entre outros, o papel de professores/educadores surdos e de agentes transformadores da escola. Ao longo do texto, estas ideias são ilustradas através do recurso a vários testemunhos encontrados dispersos na literatura académica e não-académica, e com eles emerge o jacto de (à excepção de pequenos focos), a sociedade maioritária não ter vindo a reconhecer a urgéncia de uma mudança de paradigma nesta área, promovendo atitudes segregacionistas e educando os surdos numa perspectiva de auto-regulação e de construção de uma identidade ouvinte.
O particular e o global no virar do milénio: cruzar saberes em educação, Edições Colibri / Sociedade Portuguesa de Ciências da Educação, pp. 169-174 • por Orquídea Coelho Gestos Lusófonos: Projecto de cooperação com Angola no âmbito da surdez
A nossa comunicação consiste na apresentação de um projecto de cooperação com Angola, no âmbito da surdez, o qual tem em vista viabilizar uma intervenção em áreas diferentes e complementares. Tal projecto surgiu de contactos entre uma instituição portuguesa - APECDA/PORTO (Associação de Pais para
a Educação de Crianças Deficientes Auditivas) e duas instituições angolanas - ANDA (Associação Nacional
de Deficientes de Angola) e LARDEF (Liga de Apoio à Reintegração de Deficientes). Na nossa exposição procuraremos dar conta da natureza do projecto e das intenções que lhe subjazem, a partir dos objectivos que formulámos para o balizar. A saber: - apoiar crianças surdas angolanas, nomeadamente no que se refere à possibilidade de lhes assegurar a escolaridade básica; -proporcionar oportunidades de investigação e colaboração nas áreas da interculturalidade e da aquisição da linguagem; - assegurar apoios ao nível de equipamentos: audiométrico, audio-protésico, informático, de reabilitação educativa, e outros materiais; -incentivar e apoiar a formação de técnicos angolanos; - promover a formação de parcerias· que permitam dar corpo a um trabalho com exigências multidisciplinares e que confiram consistência, credibilidade e visibilidade às acções realizadas; -contribuir para a criação de uma associação especificamente voltada para a resolução dos problemas da surdez, uma vez que as associações existentes estão vocacionadas para o apoio à deficiência em geral e não para a surdez em particular, entendida como uma condição de vida que nos remete para questões inerentes· às minorias cultural e linguística.
Educação de surdos, linguagens e experiências. Silva, R. A. F. Da; Hollosi, M. (Orgs.). Uberlândia, Navegando Publicações • por Orquídea Coelho Experiências de educação bilíngue para Surdos: entrelaçamentos entre Brasil e Portugal
Educação & Sociedade, vol.40, Campinas • por Orquídea Coelho Formas possíveis de ser nas políticas linguísticas de educação de surdos em portugal
artigo analisa um conjunto de políticas linguísticas de educação de surdos para mostrar como saberes sobre a surdez se articulam a normativas de comportamentos linguísticos dos surdos e operam na constituição de formas possíveis de ser surdo na contemporaneidade. A análise utiliza, como um exemplo destacado, documentos legais que regulamentam a educação de surdos em Portugal. Nesses documentos, percebem-se recorrências discursivas que permitem pensar a produção de formas universais possíveis de ser surdo governáveis principalmente pelo uso da língua, seja ela de sinais, seja oral. Essas formas de ser podem ser pensadas para além de um território geográfico, uma vez que se inspiram em saberes e tendências internacionais da educação de surdos.
In: Luís Grosso Correia; Ruth Leão; Sara Poças. (Org.). O Tempo dos Professores. 1ed.Porto: CIIE/FPCEUP/U.Porto, p.1101-1109 • por Orquídea Coelho A interface entre o processo formativo docente e a prática de ensino de Língua Gestual Portuguesa
Trazemos para o debate as dimensões dos processos formativos de professores de Língua Gestual Portuguesa (LGP) e a influências desses processos na prática docente desenvolvida no ensino de LGP no âmbito de Portugal. Para tanto, propomos enquanto objetivo geral do estudo em questão: analisar o processo de formação docente e a influência deste na prática pedagógica do ensino de LGP. Trata-se de uma pesquisa de campo de abordagem qualitativa. Para a coleta de dados empregamos a entrevista semiestruturada com um professor de Língua Gestual Portuguesa, a fim de discutir aspectos relacionados à formação docente e a prática de ensino de LGP. Os resultados preliminares indicam que o processo formativo do professor de Língua Gestual Portuguesa reflete uma conjuntura de necessidades de valorização desta língua, do reconhecimento das especificidades que envolvem o uso e ensino de línguas gestuais, bem como de outras influências e demandas apontadas no decorrer do processo de formação docente, tais como: o desenvolvimento de metodologias apropriadas as características visuais inerentes aos usuários de LGP e a necessidade de sistematização de materiais específicos para a propagação da LGP.
Revista Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 23, n. 3, p. 193-217 • por Orquídea Coelho Aprender/ensinar filosofia em Língua Gestual Portuguesa
Admitindo que “la philosophie trouve son élément dans la langue dite naturelle” (DERRIDA, 1988, p. 36) e defendendo uma visão linguístico-cultural da surdez, as aulas de Filosofia em contexto de surdez colocam problemas específicos. A tradução de conceitos filosóficos para língua gestual apresenta dificuldades particulares devido às caraterísticas das duas línguas (língua vocal e língua gestual/língua de sinais). Além disso, nem todos os conceitos filosóficos possuem gesto standard em língua gestual portuguesa. Dado o compromisso teórico e o imperativo legal (legislação portuguesa) de as aulas de Filosofia ocorrerem em língua gestual portuguesa, procurou-se perceber de que modo esta língua resolve o problema da ausência de gesto. Nesse sentido, solicitou-se a um grupo de docentes surdas/os de língua gestual portuguesa que explicassem textos filosóficos nos quais estão presentes alguns desses conceitos e analisaram-se essas produções gestuais com o intuito de extrair resultados elucidativos.
Revista ESC - Educação, Sociedade & Culturas, nº 43, p. 103-119 • por Orquídea Coelho Revolução de abril, educação de Surdos/as e ensino da Filosofia. Da deficiência À Pertença Cultural
As transformações políticas geradas pela Revolução de Abril, no que à educação de surdos/as concerne, tiveram a sua primeira concretização na Lei Constitucional de 1997, que reconheceu a língua gestual portuguesa (LGP) como expressão cultural e instrumento de acesso à educação. A legislação atual que regula a educação de surdos em Portugal criou as Escolas de Referência para a Educação Bilingue de Alunos Surdos, onde todas as aulas, até ao fim do ensino secundário, têm de ser ministradas em LGP. Ora, no caso da disciplina de Filosofia, a tradução levanta problemas específicos. Esta situação, no entanto, não constitui uma limitação, mas evidencia que aprender/ensinar filosofia em contexto de surdez é uma questão de interculturalidade e de equidade social, o que leva a uma nova perspetiva sobre a educação bilingue de alunos/as surdos/as: o uso da LGP é uma exigência cultural e não uma forma de superar uma deficiência.