Paulo Vaz de Carvalho nasceu a 13 de Janeiro de 1968, filho de uma professora de surdos do Instituto Jacob Rodrigues Pereira (IJRP) e de um licenciado em História conjugando, assim, a formação de ambos e o privilégio de crescer entre crianças surdas, o que marcou decisivamente a sua vida.
Licenciado em História pela Universidade Lusíada de Lisboa manteve sempre contacto com a Comunidade Surda efetuando várias formações em Língua Gestual Portuguesa (LGP) desde o início dos anos 90.
Em 2000 foi admitido no IJRP leccionando as disciplinas de História, História da Arte e Património Urbano e Arquitectónico a alunos surdos. Desde então realizou o curso de especialização em educação e ensino de crianças e jovens surdos na Universidade Moderna de Lisboa e o Mestrado em Ciências da Educação, Área de Especialização: Educação Comunicação e Linguagem na Universidade Nova de Lisboa.
Em 2007 publicou o livro “Breve História dos Surdos no Mundo e em Portugal”. Em 2009 e 2010 publicou os manuais de História da Educação de Surdos I; História da Educação de Surdos II e Estudos Surdos I da Licenciatura PRO-LGP da Universidade Católica Portuguesa (UCP). É ainda docente estas disciplinas na Licenciatura Pro‐LGP da Universidade Católica Portuguesa. Foi ainda docente do Curso de Mestrado em Educação Especial, Área da Surdez na UCP, polo de Viseu.
Presentemente é bolseiro de doutoramento da Fundação para a Ciência e Tecnologia no Instituto de Ciências da Saúde da UCP onde também é membro do Grupo de Investigação de Neurociências Cognitivas. Publicou artigos em revistas nacionais e internacionais e foi orador em vários seminários em congressos relacionados com a LGP e Educação de Surdos. Mantém a sua função como docente no IJRP onde é, também, Coordenador da Unidade de Investigação.
Revista do Centro de Ciências da Educação, V. 38, Nº 4, p. 01-24 • por Paulo Vaz de Carvalho Materiais lexicográficos e pedagógicos para a educação de surdos: revisitando a história e as produções
A educação de surdos teve seu início no século XVI e, a partir de tal período, houve a produção de materiais lexicográficos e pedagógicos para o registro das línguas gestuais ou de sinais. Tal fato ocorreu mesmo com a abordagem oralista que predominava na educação de surdos em alguns países e em alguns colégios especializados. Dentro desse contexto, este estudo tem por objetivo inventariar materiais lexicográficos e pedagógicos portugueses e brasileiros para a educação de surdos e refletir sobre suas concepções didático-pedagógicas a partir do século XVIII. Para tanto, realizou-se uma pesquisa qualitativa, do tipo bibliográfica e documental (GIL, 2002), com base em obras de referência produzidas em diferentes períodos históricos e diferentes países, em especial Portugal e Brasil. Com base nos estudos realizados, destacamos que existe uma quantidade considerável de materiais lexicográficos e pedagógicos, produzidos de forma impressa, em CD-ROM, DVD e, atualmente, on-line. Tais materiais mantêm uma tradição iconográfica, independentemente de seu formato. Percebe-se, por meio do estudo, que houve avanços em relação à representação das línguas gestuais ou de sinais no que tange ao destaque à imagem em movimento; todavia, os materiais que são produzidos de forma on-line carecem de ajustes e ampliação com base em Corpora.
Medi@ções. Revista Online da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal. Vol 7, n. 1, p. 101-110 • por Paulo Vaz de Carvalho História da Educação de Surdos: O que dizem as fontes documentais
Até ao final do século XIX, a historiografia mundial assentava numa metodologia positivista de explicar a história. Era a História dos factos, das datas e dos heróis. Nos anos 20 do século XX surge a chamada Nova História, um conceito iniciado com Lucien Febvre e Marc Bloch, a “Escola dos Annales”. Esta corrente chamava a atenção para a História dos indivíduos vivendo em sociedade e condicionados por aspetos políticos, económicos, sociais, psicológicos entre outros.
Em Portugal, esta nova forma de olhar para a História teve diversos seguidores destacando-se Vitorino Magalhães Godinho nos anos 70 do século XX, apontado como elemento da oposição ao Estado Novo, impedido de continuar a carreira universitária em Portugal, foi para Paris, onde se tornou investigador no Centre National de la Recherche Scientifique onde privou com os grandes nomes da École Pratique des Hautes Études, entre os quais Lucien Febvre, Fernand Braudel são utilizadas fontes primárias estão espartilhadas, descontextualizadas e manipu-ladas servindo mais o propósito dos autores que escrevem sobre elas do que a busca da isenção histórica. Estes erros foram cometidos pelos autores defensores do dito “método oralista” e dos defensores do dito “método gestualista” sendo esta a história que está construída. Esta forma de construir a história deu origem a conflitos, incompreensões e intolerâncias que em nada têm contribuído para o desenvolvimento da educação das pessoas surdas.
O presente artigo tem como objectivo identificar alguns problemas metodológicos na construção da História da educação de surdos, desmitificá-la e apontar soluções para a reconstrução dessa mesma História.
Revista Ideação, v.18, n.1, p12-42 • por Paulo Vaz de Carvalho A emergência do léxico de especialidade na Língua Gestual Portuguesa: Proposta de construção de um dicionário terminológico bilingue-bidirecional online
Nas escolas de surdos em Portugal, em relação à Língua Gestual Portuguesa (LGP) deparamo-nos com duas situações distintas. A primeira prende-se com a utilização da LGP como meio de estabelecer a comunicação informal. A outra situação, mais complexa, diz respeito à utilização de léxico especializado em LGP para lecionar os conteúdos escolares das diversas disciplinas curriculares. No entanto, os docentes e os intérpretes de LGP na maioria das vezes não dispõem de uma língua de restituição equivalente para abordarem os conteúdos das disciplinas. A situação relatada está intimamente ligada à História da LGP. Apenas recentemente a LGP entrou na escola como meio de instrução dos alunos surdos. Todavia, a partir de 2005 com a criação das primeiras licenciaturas na área da LGP, com o alargamento da escolaridade obrigatória para 12 anos e o acesso das pessoas surdas a profissões mais qualificadas, fez com que as pessoas surdas começassem a sentir necessidade de criar léxico de especialidade para os conteúdos com que começavam a ter contato. Esta nova realidade tem dado origem à criação de um grande número de neologismos de especialidade embora de forma desregulada fruto da ausência de uma planificação linguística para a LGP. Por outro lado a escassez de recursos lexicográficos consensuais e atualizados para a língua não contribui para a solução desta questão. A investigação que desenvolvemos tem como objetivo geral contribuir para a caracterização da emergência do léxico de especialidade em LGP. Efetuámos um estudo a nível nacional em que utilizámos como instrumento de recolha de dados uma entrevista estruturada aplicada a três grupos-alvo tomando como área de estudo a disciplina de História no sentido de verificar a existência de equivalentes em LGP para os seus conceitos-chave. Pretendemos ainda verificar através da aplicação da entrevista estruturada a existência de necessidade de criação de neologismos de especialidade, quais recursos utilizados na criação desses neologismos, quem está habilitado a criar neologismos e a forma como são padronizados e disseminados. Os resultados da aplicação da entrevista levaram-nos a propor a construção de um dicionário terminológico bilingue-bidirecional online que tem como grande objetivo o registo, a partilha, a disseminação e a padronização dos neologismos de especialidade.
XI Congresso Internacional e XVII Seminário Nacional do INES • por Paulo Vaz de Carvalho Educação Bilingue para Surdos: Uma Experiência Portuguesa
O presente trabalho fornece uma síntese do percurso da educação bilingue para alunos surdos, em Portugal, desde a sua génese à sua implementação e aperfeiçoamento. Inicialmente efetuar-se-á um breve resumo sobre a história da educação de surdos, em Portugal desde a fundação do primeiro instituto de surdos-mudos em 1823 pelo professor sueco Per Aron Borg até ao século XXI em que se destacarão as principais metodologias utilizadas neste tipo de educação. Este artigo centra-se essencialmente na história do primeiro instituto de surdos português, o Instituto Jacob Rodrigues Pereira, não deixando, contudo, de salientar os vários marcos importantes que surgiram fora desta instituição e que contribuíram inequivocamente para o desenvolvimento da educação de surdos no nosso país. Por último elaborar-se-á uma reflexão acerca dos sucessos e insucessos atingidos por este modelo de educação ao longo dos anos, efetuando várias propostas para que a educação bilingue de alunos surdos seja definitivamente uma realidade, em Portugal.
2012 • 1ªs Jornadas da LGP. Língua. Ensino. Interpretação. ESEC - Escola Superior de Educação de Coimbra O Abade de L’Epée no Século XXI
Resumo do Artigo Científico
1ªs Jornadas da LGP. Língua. Ensino. Interpretação. ESEC - Escola Superior de Educação de Coimbra • por Paulo Vaz de Carvalho O Abade de L’Epée no Século XXI
O presente artigo tem como objetivo recuperar a vida e obra do Abade de L’Épée, percursor da educação pública das crianças e jovens surdos em todo o mundo realçando a contemporaneidade das suas obras enquanto alicerces da educação bilingue defendida no século XXI. Este professor fundou o primeiro instituto público de surdos de todo o mundo - o Instituto Nacional de Surdos-Mudos de Paris - tendo como base um método que reconhecia a existência da língua gestual dos surdos franceses, incluindo-a na sua educação. A este método, L´Épée chamaria de gestos metódicos cuja descrição é apresentada nas suas duas principais obras: Institution des Sourds- Muets par la voie des signes methodiques (1776) e La veritable maniére d’instruire les sourds et muets confinée par une longue experience (1784). Apresentar-se-á, no início deste trabalho, uma resenha acerca da história da educação de pessoas surdas antes do Abade de L’Épée, realçando de seguida os seus principais contributos para a educação de surdos, a nível mundial e finalmente salientar a atualidade das suas obras como base para o desenvolvimento de uma educação de surdos bilingue e de qualidade.
Casa Pia Lisboa, Newsletter - Dezembro • por Paulo Vaz de Carvalho Materiais Bilingues: Uma área de intervenção prioritária
O CED Jacob Rodrigues Pereira (CEDJRP) tem sido, desde a sua fundação em 1823, “a” escola de referência para o ensino de surdos em Portugal. Foi nesta instituição da Casa Pia de Lisboa (CPL) que se introduziram os principais métodos de ensino de surdos desenvolvidos no nosso país ao longo dos 187 anos da história do ensino de surdos em Portugal. Estes métodos introduzidos e desenvolvidos nesta escola viriam a influenciar todas as outras escolas e institutos de surdos do nosso país. Tendo essa consciência, o CEDJRP continua na vanguarda do ensino de surdos, em Portugal, assumindo a sua responsabilidade histórica. Presentemente, o grande objectivo deste CED é a implementação efectiva do ensino bilingue de surdos, ou seja, efectuar a difícil tarefa que é a passagem de um modelo bilingue teórico a um modelo bilingue prático e de sucesso. Esta implementação passa por duas grandes áreas de intervenção: a produção de materiais bilingues desde o ensino pré-escolar ao ensino secundário e o ensino da leitura e da escrita como segunda língua dos educandos surdos. Só o desenvolvimento destas duas áreas de intervenção, em articulação com as outras escolas de referência nacionais para o ensino de surdos, poderá viabilizar uma implementação efectiva do ensino bilingue de surdos no nosso país.
Educação de surdos, linguagens e experiências. Silva, R. A. F. Da; Hollosi, M. (Orgs.). Uberlândia, Navegando Publicações • por Paulo Vaz de Carvalho Experiências de educação bilíngue para Surdos: entrelaçamentos entre Brasil e Portugal
Cadernos de Saúde (Instituto Ciências da Saúde), v. 2, p. 99-104 • por Paulo Vaz de Carvalho Estudos Cognitivos em Língua Gestual Portuguesa: Estudo de arte
O objectivo principal deste artigo foi apresentar um estudo que se encontra a decorrer, no ICS da UCP. Neste trabalho, propomo-nos replicar estudos já feitos para outras línguas gestuais, nomeadamente, relativamente à memória de trabalho. As nossas propostas englobam também estudos originais, nomeadamente no que concerne a percepção do tempo nos surdos. Neste artigo fazemos uma breve revisão da literatura relativamente ao Estudo da Arte nas outras línguas gestuais, particularmente na ASL, identificando a necessidade de replicação desses trabalhos para a LGP. O Estado do desenvolvimento do nosso trabalho é também apresentado.