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Elielson Sales
Elielson Sales
Professor de Matemática
Quando a sala de aula, também, é a cidade: Uma experiência com alunos surdos
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Publicado em 2010
X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador – BA
Elielson Sales
Adriane Sales
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Resumo

O estudo teve como objetivo analisar uma experiencia docente, frente a um projeto interdisciplinar desenvolvido com alunos surdos de 3a Série do Ensino Fundamental. Foi feito um recorte teórico sobre a prática, sobre as mudanças curriculares e a nova proposta de abordagem sobre os conteúdos, procurando relacioná-los à ação docente no ensino da matemática. O Método foi exploratório-descritivo com análise qualitativa dos dados. As produções (desenhos e textos) que demonstraram a percepção dos alunos sobre os conteúdos trabalhados e o nível de alcance dos objetivos estabelecidos para o projeto. A pesquisa envolveu 14 alunos surdos e professores em uma Instituição de Ensino Especializada. Nos resultados, observou-se que a exploração de outros ambientes, a utilização de imagens e da Língua Brasileira de Sinais - Libras são diferenciais importantes, tanto para o processo de ensino, quanto para a construção de conhecimentos e representação dos saberes apreendidos pelos alunos nas aulas de Ciências e Matemática.

Introdução

Quando analisamos o ensino de Ciências e Matemática enquanto ciências, tanto no âmbito específico de seus próprios conhecimentos ou de suas relações com a biologia, química e física, por exemplo, quanto nas abordagens utilizadas nas primeiras séries do Ensino Fundamental percebe-se que, a ciência que ensinamos nas escolas contribui para a manutenção de uma imagem idealizada e distante da realidade do trabalho dos cientistas, não revelando os conflitos de ideias e embates que são travados por grupos responsáveis pelo progresso da ciência. Colaborando para a formação de uma visão inocente de uma ciência neutra, altruísta e desinteressada e construída por sujeitos igualmente dotados destas qualidades (LEAL e SELLES, 1997), o que reforça a descontextualização e a ausência de articulação com as demais disciplinas do currículo.

No campo da didática relacionada ao ensino e aprendizagem de Ciências e Matemática, surgem algumas críticas, que apontam que as pesquisas não conseguiram modificar o ensino dos conteúdos científicos. As novas propostas têm obtido infiltrações modestas na realidade da educação brasileira. (MENEZES, 1997). Portanto, estamos diante de uma situação complexa, que requer uma relação real entre as pesquisas e a prática docente. Apontando no sentido da busca de alternativas para que possamos contribuir, significativamente, para o (re)desenhar de um novo caminho do ensino de Ciências e Matemática em nossas escolas.

No entanto, não é possível debater sobre as necessidades do ensino e propostas educacionais, sem falar da prática docente e do papel do professor diante desta realidade. São os professores que, com o seu trabalho, corporificam as diretrizes traçadas para a educação e, só será possível esperar que os discentes interajam com os conteúdos, tenham aprendizagens significativas, se os docentes adequarem sua prática a esta nova realidade social, tecnológica, globalizada e multicultural do século XXI.

Como a experiência prática abordada neste estudo, envolve, ainda, outro aspecto nevrálgico para o Sistema Educacional, que é a educação para alunos com necessidades educativas especiais, os elementos necessários à compreensão deste trabalho serão encaminhados a seguir com a devida atenção as suas especificidades.

O Elemento Visual e Educação do Surdo

As experiências metodológicas utilizadas na Educação Especial em relação aos alunos surdos têm se firmado em propostas, que procuram diversificadamente facilitar o ensino e a aprendizagem do aluno com déficit auditivo. Ao tentar colocar em prática estas metodologias, as instituições especializadas se deparam com dificuldades variadas, pois atingem elementos intrínsecos contidos no seio da sociedade, como a discriminação e o preconceito de que a pessoa impossibilitada de ouvir estaria impossibilitada de aprender e desenvolver suas potencialidades cognitivas.

Precisamos reconhecer a importância que a imagem visual tem sobre o desenvolvimento cognitivo da criança, e como ela interage com ele, e como poderíamos utilizar essa interação para uma melhor facilitação da aprendizagem do aluno surdo. Para tanto, é necessário conhecermos os problemas de adaptação e as dificuldades fundamentais com as quais a criança surda se depara. A saber, o canal sensorial predominante na atividade comunicativa é o visual, que lhe permite superar as limitações de ordem auditiva para construir seu conhecimento de mundo, relacionando-o à linguagem, imaginação e realidade.

O obstáculo sensorial auditivo cria situações comunicativas específicas para o surdo, porém, não o impede de adquirir uma linguagem nem o desenvolvimento de sua capacidade de representação. Tal processo envolve mecanismos mentais, também diferentes daqueles da pessoa ouvinte e por isso, torna-se responsável pela construção de esquemas de pensamentos e estratégias intelectuais que dependem da natureza do desenvolvimento lingüístico-cognitivo que lhes é próprio.

Novas Concepções dos Conteúdos: A Importância de se Refletir a Reforma do Ensino

Segundo Gadotti (2000), o primeiro pilar que fundamenta a educação está na capacidade do ser humano “aprender a conhecer”, sendo esse aprendizado uma condição essencial para novas descobertas. Para o autor “aprender a conhecer” implica na aquisição de um repertório de saberes codificados, os quais servem como um meio e uma finalidade na vida humana. Meio, porque pretendemos que cada um aprenda a compreender o mundo que o rodeia, pelo menos na medida em que isso lhe é necessário para viver dignamente, para desenvolver as suas capacidades profissionais, para se comunicar. E finalidade, porque seu fundamento é o prazer de compreender, de conhecer, de descobrir.

Aprender a conhecer e aprender a fazer são, em larga medida, indissociáveis. O “aprender a fazer” está mais estreitamente ligado à questão da formação para o trabalho e não pode mais continuar a ter o significado simples de preparar alguém para uma tarefa material, para fazê-lo, simplesmente, fabricar alguma coisa. Como conseqüência, as aprendizagens devem evoluir e não podem mais ser consideradas como simples transmissão de práticas, devem ocorrer com vistas ao desenvolvimento das habilidades (GADOTTI, 2000).

Partindo da problemática de aproximar os alunos surdos dos conceitos e procedimentos próprios de Ciências e Matemática, assim como da História e da Geografia, com a preocupação de que esta aproximação não ficasse restrita ao perfil expositor ou memorístico, foi desenvolvido, junto com uma professora de classe, de uma Instituição Especializada em ensino de crianças surdas, um projeto que tinha como objetivo de abordar conteúdos matemáticos e desenvolver a temática de preservação do meio ambiente, a partir de pontos históricos da cidade de Belém.Para o desenvolvimento do projeto, levamos em consideração, por exemplo:

  1. Conteúdos Conceituais
    • Detectar os tipos de poluição e ações que prejudicam o meio ambiente e o patrimônio histórico da cidade; Identificar as causas que provocam a poluição e as ações que “agridem” o patrimônio histórico da cidade e analisar as conseqüências e; Identificar as formas geométricas e os elementos matemáticos presentes nos locais históricos visitados;
  2. Conteúdos Procedimentais
    • Desenvolver pesquisas sobre poluição e os elementos matemáticos observados e compartilhar as informações coletivamente; e Observar as causas e interferir nos efeitos da poluição e da degradação dos pontos turísticos de Belém;
  3. Conteúdos Procedimentais
    • Conscientizar-se da presença e da importância da matemática, com seus mais variados elementos, estão presentes no cotidiano e na paisagem da cidade; Conscientizar-se da importância de se preservar o meio ambiente e o patrimônio histórico; Utilizar diferentes fontes de informações, como forma de combate à poluição e à destruição dos prédios históricos; Sentir-se parte integrante e ser responsável pela qualidade do meio em que vive.

Finalmente, destacamos que este estudo visou discutir questões significativas da Reforma Educacional, considerando que “[...] aprender não é primeiramente memorizar, estocar informações, mas reestruturar seu sistema de compreensão de mundo [... e] a escola não pode ignorar o que se passa no mundo” (PERRENOUD, 2001, p.30).

Alternativas para o Ensino de Ciências e Matemática: Belém a nossa Grande Sala de Aula

Este estudo foi desenvolvido em uma escola especializada em educação de surdos, que atualmente trabalha com a abordagem bilíngue em sua metodologia de ensino – Libras como primeira língua (L1) e o Português como segunda língua (L2) utilizada. A Instituição, na busca de melhores resultados se utiliza de vários meios didáticos como: informática educativa, esportivas e artísticas, contando, também, com auxílio de técnicos especialistas, além de acompanhamento aos pais através de um serviço psico-social. O programa educacional do Instituto segue as Diretrizes do Ensino Regular da Rede Oficial do Estado do Pará, com adaptações e complementações em relação aos indivíduos surdos.

A pesquisa envolveu um grupo de 14 alunos surdos, dentre os quais, 6 meninos e 8 meninas, que frequentam o laboratório de informática educativa - LIED. Os sujeitos têm de surdez bilateral profunda e cursavam a 3a série do Ensino Fundamental em regime de semi-internato. Com idade entre 9 e 12 anos, todos são usuários de Libras. No transcorrer na pesquisa, as atividades ocorreram em vários espaços internos e externos ao ambiente escolar como pontos turísticos da cidade, a sala de aula, sala de leitura e LIED.

A primeira etapa de realização da pesquisa foi de organização do projeto para traçar o planejamento do que seria executado. Ficou estabelecido que o desenvolvimento das atividades ocorreria em 8 momentos distintos e com propósitos específicos. A coleta de dados, nos ambientes externos à escola, foi feita por meio de observações e gravações audiovisuais, em todas as etapas de atividades. As 3 excursões pedagógicas ocorreram em dias letivos, com duração de 4 horas. Foram utilizados: computadores, impressoras, scanner, câmera fotográfica digital, filmadora, livros, revistas, software educacional e demais materiais didáticos.

No primeiro contato com os alunos, foi realizada uma conversa inicial, - dinâmica de “Chuva de Idéias 1” -, a fim de levantar informações acerca dos conhecimentos prévios do grupo, com relação aos locais que seriam visitados. Em seguida, foram organizadas as atividades externas (excursões) para a exploração dos pontos turísticos, que envolveram o complexo do Ver-o-Peso (Belém/PA), composto pelos seguintes pontos turísticos: Estação das Docas, Feira do Açaí, Praça do Relógio, Mercado do Peixe, Mercado da Carne, Solar da Beira, Praça do Pescador e Feira Livre.

Em relação aos conteúdos conceituais de Ciências e Matemática, foram abordadas “in loco”, questões ligadas ao meio ambiente (exemplos: água, poluição e a importância da preservação da natureza) e as formas geométricas, aprofundadas, posteriormente, em ações realizadas em sala de aula. Tendo em vista a proposta interdisciplinar do projeto, a professora de sala e os profissionais do LIED abordaram, também, conhecimentos ligados à História e Geografia tais como: a fundação da Cidade de Belém/PA (os alunos conheceram a 1ª. Rua da cidade); o período das invasões holandesas (no momento da visita ao Forte do Castelo); questões ligadas ao tempo e ao clima, população e outros.

A visita à feira do Ver-o-Peso (ponto turístico de grande expressão na cidade) abriu perspectivas diferenciadas para a abordagem dos números decimais e operações com números naturais, geometria, mencionadas diante das atividades de comércio do local e aprofundadas em sala de aula.

A língua portuguesa foi trabalhada, a partir de estímulos relacionados á orientação dos textos a serem elaborados, no intuito de registrar a percepção das crianças sobre as atividades, além de enriquecer a produção material do projeto. Neste sentido, observou-se que as situações vivenciadas nas excursões auxiliaram e estimularam, positivamente, os alunos à criação dos textos solicitados, configurando-se, também, como favoráveis à apropriação da língua. Vale ressaltar que no decorrer de todas as atividades as interações e a comunicação geral foram feitas em Libras, o que, aparentemente, foi facilitador no processo de “pesquisas e investigação” dos alunos.

Após os três momentos vivenciados nos ambientes extra-escolares e, com o devido aprofundamento das temáticas ocorrido, nesta etapa, em sala de aula e no LIED, foi feita a primeira exposição, com as imagens da cidade, a partir das informações coletadas durante as visitas pedagógicas e enriquecidas com pesquisas em livros, revistas e/ou internet.

Na etapa seguinte, os profissionais envolvidos e o grupo de alunos organizaram a sistematização de todas as informações. Nos dados, foram evidenciados os conteúdos conceituais de Ciências e Matemática de forma articulada a outros conhecimentos, conectando-os a outras áreas do saber (história - prédios históricos; geografia - clima e; matemática - feira). Com o auxílio do computador e utilizando o software MicroMundos 2, cada aluno produziu uma ou mais telas, que retrataram os momentos vivenciados, nos quais foram identificadas relações com as áreas de conhecimento exploradas. Para a apresentação geral dos trabalhos foram utilizados, também, softwares e recursos como: Editor de desenho (MSPaint), Programa MicroMundos e o programa para apresentação de slides (PowerPoint).

Resultados e Discussões

Observamos que as contribuições de metodologias que privilegiem os espaços extra-escolares são positivas no que se refere ao processo de ensino e aprendizagem, permitindo à criança surda realizar um trabalho mental que leva ao uso de criatividade e a descobertas interessantes. Analisamos a produção feita pelas crianças, buscando identificar e analisar os diferentes tipos de expressão, que cada criança utilizou, para manifestar suas percepções sobre as situações vivenciadas. E, neste sentido, os resultados mostram que o uso de metodologias diferenciadas e recursos visuais como: língua de sinais, imagens viso-espaciais, expressão corporal, desenhos, criam um ambiente favorável à apropriação dos conteúdos. O que confirma a necessidade de que, na prática pedagógica, o docente deva utilizá-los no seu dia-a-dia.

Outro aspecto relevante a ser pontuado, foi o procedimento, utilizado na fase inicial do projeto, quando a professora de classe perguntou aos alunos se conheciam o complexo do Ver-o-Peso. Neste momento, as manifestações foram tímidas e a maioria deles, lembrava apenas de pequenos detalhes dos pontos turísticos. No entanto, quando um deles conseguiu descrever com propriedade os elementos que compõem todo o complexo, citando suas partes principais em L1, permitindo que os demais pudessem interferir quando se lembrassem de algum detalhe, o processo terminou se configurando como um momento bastante rico no que diz respeito à interação. Em seu relato, percebemos que o aluno preocupou-se em relacionar os pontos turísticos com os passeios em família, nos quais se faziam presentes o pai, a mãe, a tia e a sua irmã, o que interpretamos como reforço ao que afirma Fávero (2005), quando aponta que a progressão de interações visuais (esquemas sociais) estão ligadas, num primeiro momento, a pessoas. Neste sentido, relacionamos que a afetividade é um elemento importante ao desenvolvimento da capacidade da criança em se expressar, fazer compreender e interpretar o mundo que a cerca.

Quanto aos objetivos ligados, de forma direta ao currículo, percebemos, nas produções de imagens, feitas com o auxílio do MicroMundos, que os conceitos desenvolvidos ao longo do projeto foram apreendidos e explicitados pelas crianças nas produções de telas (desenhos). O que pode ser observado nas figuras 1 a 6.

Mas, antes de abordá-las, é interessante destacar que a “Exposição Artística”, para exibir as produções, foi um momento que as levou a demonstrarem satisfação em perceberem que estavam sendo valorizadas.

Pode ser observado nas figuras que a produção material em desenho expressa a apreensão dos conteúdos propostos nas três dimensões abordadas por Coll (2000). E, de forma mais específica, destacando os seguintes aspectos:

  • Observamos nas figuras como um todo, a estreita relação entre as concepções de conteúdo tratadas por Coll (2000), pois os desenhos espelham que os alunos conseguiram visualizar elementos matemáticos (desenhos retratam várias formas geométricas) e a matemática presente no mercado, a compreensão e apropriação pelas crianças das ações geradoras (“lixo”, “quebrar”) de poluição e degradação do patrimônio histórico – conteúdo conceitual; observação e o desejo de interferir no processo (“não lixo feira”, “casa preciso tempo muito ficar”, “lixo feio”), por meio de advertências/pedidos, atitudes de interesse pelas relações de compra e venda de produtos do mercado – conteúdo procedimental; e no conjunto, é possível perceber a concepção de conteúdo atitudinal, já que utilizaram os desenhos (expostos no “Varal Pedagógico”) para demonstrar os conhecimentos construídos e uma consciência crítica sobre a questão ambiental e, ainda, fazerem o seu “apelo” para uma mudança de atitude;
  • Outro ponto, que consideramos importante, foi a presença dos conteúdos pretendidos no âmbito do ensino de Ciências e Matemática (“homem trabalhar comprar números peixes”, “vende-se melancia”), pois estão presentes nos desenhos questões curriculares da 3ª. Série do Ensino Fundamental, como: chuva e sol (clima) árvores, rios, peixes. Assim como os conhecimentos tratados, de forma interdisciplinar, nas áreas de História, Geografia ;

Por último, mas não menos importante, destacamos a questão da linguagem escrita, pois é necessário referenciar as dificuldades enfrentadas, tanto pelos professores, quanto pelos alunos surdos, no trabalho e desenvolvimento da L2 na forma escrita. Neste sentido, é necessário pontuar que os surdos, sem o feedback da audição, têm muitas dificuldades para compreender os mecanismos da Língua Portuguesa, nos seus moldes mais tradicionais e rígidos da norma culta.

Desta forma, fechamos nossa análise sustentando as especificidades necessárias à preparação de professores para atuarem com esta clientela (desde a competência para comunicar-se até os conhecimentos necessários ao trabalho de letramento, que envolve um ensino especializado e correção adequada) e, ainda, ressaltando que não só as crianças, mas todos os indivíduos surdos precisam e devem ter garantido o direito de ensino em L1. Neste caso, a Língua de Sinais deve ser trabalhada como língua materna, ou seja, língua natural dos surdos. Quanto à língua oficial de seu país, para o autor, deve ser reconhecida como segunda língua, pois, dessa forma, “[...] o surdo não precisaria almejar uma vida semelhante ao ouvinte, podendo assumir sua surdez” (GOLDFELD, 1997, p. 38).

Considerações Finais

A reforma do ensino, assim como as teorias, em si, não transformam o mundo. Podem contribuir para sua transformação, mas para isto têm que sair de si mesmas, e em primeiro lugar, têm que ser assimiladas pelos que vão ocasionar, com seus atos reais, as efetivas mudanças. Entre as teorias e as atividades práticas transformadoras se insere um trabalho de educação das consciências, de organização de meios materiais e planos concretos de ação: tudo isso como passagem indispensável para desenvolver ações reais e efetivas. Nesse sentido, uma proposta de reformulação do ensino, só é prática à medida em que materializa, através de uma série de mediações, que antes só existiam de forma idealizada, como conhecimento da realidade ou antecipação ideal de sua transformação.

No contexto desta pesquisa, consideramos que a diversidade e as adversidades que permeiam o processo de ensino, nos levam, constantemente, a refletir sobre o papel dos educadores e da própria educação nos dias atuais. E, é neste processo que se encontra a essência do desafio, dentro dos quais estão envolvidas as novas concepções dos conteúdos.

Destacamos que, em nosso entendimento, a experiência vivenciada e referenciada neste estudo logrou êxito, na experimentação e vivência prática das novas concepções de conteúdo abordadas na reforma. Mas, não podemos deixar de considerar que o projeto foi desenvolvido em uma Instituição especializada de ensino, voltada para o atendimento de crianças surdas e que conta com uma equipe de profissionais preparados para o ensino do surdo – que, por sua vez, requerem elementos, ainda mais específicos, e impõem aos professores, preparação e empenho diferenciados, que possibilitem êxito, no desenvolvimento e ampliação de suas potencialidades. Portanto, mais preparada para torná-los capazes de viver, interagir e atuar na sociedade contemporânea.

No entanto, para finalizarmos, queremos destacar, ainda, que estas possibilidades, deveriam ser asseguradas a todos os que se encontram inseridos nas redes regulares de ensino, a fim de que possamos dizer, no futuro, que a reforma proposta é uma realidade no contexto educacional brasileiro.

Notas

1 A chuva de ideias é uma técnica que pode ser usada para abrir possibilidades de debates ou opiniões sobre algum tema, associar idéias em relação a uma palavra ou conceito ou por em comum as experiências dos participantes a respeito de um tema.
2 O MicroMundos é uma ferramenta de autoria com poderosa capacidade de interatividade e animação, que inclui a versão mais moderna e avançada da linguagem de programação Logo.

Bibliografia

COLL, C. et allii. Os conteúdos na reforma. Ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes, Porto Alegre: Artmed, 2000.

FÁVERO, M. H. Desenvolvimento psicológico, mediação semiótica e representações sociais: Por uma articulação teórica e metodológica. Psicologia Teoria e Pesquisa, 2005.

GADOTTI, M. Perspectivas atuais da Educação. São Paulo. 2000.

GOLFELD, M. A criança surda. São Paulo: Plexus, 1997.

LEAL, M. C., SELLES, S. E. Sociologia e ensino de ciências: anotações para discussão. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 1., 1997, Águas de Lindóia. Atas... Águas de Lindóia, 1997. p. 338-344.

MENEZES, L. C. de. et al. A formação dos professores e as várias dimensões da educação para as ciências. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS, 1., 1997, Águas de Lindóia. Atas... Águas de Lindóia, 1997. p. 308-314.

PERRENOUD, P.; THURLER, M. G. As competências para ensinar no século XXI: a formação dos professores e o desafio DA avaliação. Porto Alegre: Artemed, 2001.

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