Cristina Gil
Investigadora/Docente no Ensino Superior
Biografia do Autor
Cristina Gil Investigadora/Docente no Ensino Superior
Cristina Gil é Professora Adjunta Convidada na Escola Superior de Educação – Instituto Politécnico de Setúbal (ESE-IPS) no curso de Tradução e Interpretação de Língua Gestual Portuguesa e membro do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura.
Em 2020, concluiu o doutoramento em Estudos de Cultura na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa (Lisbon Consortium/FCT PD/BD/128194/2016) com a sua investigação transdisciplinar em Estudos de Cultura, Estudos Surdos e Estudos de Utopia que cunhou o neologismo "Deaftopia" e analisa as representações e discursos utópicos presentes na Cultura Surda. Possui um Diploma de Estudos Avançados em Línguas, Literaturas e Culturas com especialização em Estudos Culturais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (2014) e um Mestrado em Comunidade Surda, Educação e Línguas Gestuais da Universidade de Barcelona (2010). A sua licenciatura foi em Tradução e Interpretação de Língua Gestual Portuguesa (ESE-IPS, 2007), e exerceu a profissão de intérprete de LGP durante 13 anos em diversos contextos nacionais e internacionais.
Os seus interesses gravitam em torno de questões de Estudos de Cultura Surda, Estudos Surdos, História Surda, e Línguas Gestuais.
2019 • In Línguas de Sinais: Cultura Educação Identidade, organizador por Isabel Sofia Calvário Correia, Pedro Balaus Custódio & Ronaldo Manassés Rodrigues Campos, p. 75-92. Lisboa: Ex-Libris. O Mythomoteur Surdo
Resumo do Artigo Científico
In Línguas de Sinais: Cultura Educação Identidade, organizador por Isabel Sofia Calvário Correia, Pedro Balaus Custódio & Ronaldo Manassés Rodrigues Campos, p. 75-92. Lisboa: Ex-Libris. • por Cristina Gil O Mythomoteur Surdo
A origem gestual da linguagem humana levanta diversas questões, tais como considerar-se que as línguas gestuais não são exclusivas das comunidades Surdas 3. A existência de aldeias onde a maioria dos habitantes é ouvinte e em que o idioma mais usado é uma língua gestual (Kusters, 2010) faz-nos questionar até que ponto as línguas gestuais são exclusivas das pessoas Surdas ou das designadas comunidades Surdas. Pelo o que sabemos até ao momento, a Cultura Surda emerge das comunidades Surdas o que cria uma base que influencia a estrutura da identidade Surda no caso das pessoas Surdas utilizadoras de uma língua gestual. Holcomb define sete tipos de identidades Surdas e nem todas assentam em línguas gestuais e cultura Surda. Alguns indivíduos surdos escolhem viver as suas vidas à parte de outros Surdos, de línguas gestuais e Cultura Surda e outros são involuntariamente condenados ao isolamento devido a diversos factores ou são cativos, no sentido em que são proibidos de contactar com outros Surdos (Holcomb, 2012). Este artigo centra-se nas pessoas Surdas utilizadoras de uma língua gestual, que produzem, consumem e têm a consciência da Cultura Surda e que pertencem a uma comunidade Surda. Estes indivíduos Surdos no processo construtivo da sua identidade Surda são aqueles que inspiraram e foram inspirados pela tétrade Mythomoteur: Deaf World, Deaf Way, Deafhood e Deaf Gain 4 (Armstrong, 1982; Bauman & Murray, 2014; Erting, Johnson, Smith, & Snider, 1994; Ladd, 2003)
Todavia, as línguas gestuais não são exclusivas de pessoas com perda auditiva. Estes idiomas também são utilizados como línguas por ouvintes como veículo de expressão e comunicação, o que nos conduz a ponderar sobre o verdadeiro papel central da Cultura Surda. Este ponto de vista crítico leva-nos mais além, permitindo-nos questionar a sustentabilidade do binário mundo Surdo/Ouvinte, convidando-nos a um olhar mais aprofundado em torno da expansão de conceitos como Deafhood e Deaf Gain. Os ouvintes que gestuam referem muitas vezes as vantagens de ser um gestuante uma vez que acedem à riqueza da Cultura Surda em primeira mão. Os Surdos, por sua vez, buscam incessantemente um equilíbrio entre uma existência Surda plenamente bilingue, bimodal e bicultural. Esta demanda permanente pode transformar-se numa frustrante experiência de vida. Contudo, Deaf World, o Deaf Way, o Deafhood e o Deaf Gain são, inquestionavelmente, conceitos de empoderamento, tecendo laços supranacionais e inspirando uma concepção partilhada de interações dentro das comunidades Surdas. Assim, é importante pensar-se como estes conceitos podem interagir com Surdos e ouvintes e que impacto têm nas suas vidas. Este artigo pretende incidir sobre a tétrade Mythomoteur e como a disseminação destes elementos da Cultura Surda, sobretudo as línguas gestuais, que enriquecem a linguagem humana daqueles que escolhem levantar e mover as suas mãos para além do que aparentemente parece ser determinado pela perda auditiva.
Medi@ções. Revista Online da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal. Vol 7, n. 1, p. 4-17 • por Cristina Gil Deaf Way nos Estudos Culturais: a bandeira Surda da diversidade
Este artigo aborda conceitos essenciais em Estudos Surdos ainda pouco disseminados em Portugal. Descreve o discurso dos membros das Comunidades Surdas ocidentais enquanto minorias linguísticas culturais e explicita os conteúdos dessa concepção 1 sobre o indivíduo Surdo. Referimos ainda a questão da Identidade Surda, tais como categorizações e processos apresentados na literatura especializada. Concluímos frisando a importância de se dar atenção aos discursos internos das Comunidades Surdas, e debatendo a perspectivação do traço ser Surdo como uma realidade médica ou étnica.
Cadernos de Saúde, Vol. 4, N.º 1, pp. 43-52 • por Cristina Gil A liderança na Comunidade Surda Portuguesa: Estudo qualitativo sobre quatro líderes Surdos
Apresentamos um estudo qualitativo antropológico da comunidade Surda 1 portuguesa. O tema incide sobre a liderança Surda. Apuraram-se quatro líderes Surdos e de acordo com uma metodologia etnobiográfica, cruzámos as suas quatro histórias de vida. O objectivo foi obter as características da liderança Surda e delinear o perfil destes quatro líderes. Contrastando as afirmações de outros investigadores com os nossos dados, conseguimos comprovar algumas variantes como a presença dinâmica entre o mundo ouvinte e o mundo Surdo que o líder Surdo deve alcançar e manter. São exemplos disso a constante desmistificação de preconceitos na esfera social em relação à pessoa Surda, tal como as acções de contínua sensibilização no mundo ouvinte. A militância pelos direitos de cidadania plena é o que torna estes homens em líderes.