Aluna da rede municipal de ensino é pioneira em receber aulas particulares numa plataforma que liga educadores e alunos surdos.
Entre os barulhos e sons que existem no espaço escolar, Ester do Nascimento Alves. 10 anos, aluna do quarto ano da Escola Municipal Doutor Abdon Baptista , carrega-o no modo mudo. Diagnosticada com surdez severa, a aluna, ainda em fase de alfabetização, é a primeira na rede municipal de ensino a receber aula uma vez por semana na plataforma "surdo para surdo" que a liga também com uma professora surda para ensinar a Língua Brasileira de Sinais e a Língua Portuguesa.
As aulas tiveram início em novembro do ano passado, quando a professora do Atendimento Educacional Especializado (AEE) Juliane Pereira de Pinho conheceu Fernanda Martins , urna das fundadoras da plataforma Surdo para Surdo, em um dos encontros que teve depois de ter iniciado as aulas para aprender a se comunicar em Libras. "Ela conversou comigo e eu disse que tinha uma aluna surda e que estava preocupada, porque não tinha Libras", relembra Juliane.
Desse encontro, surgiu a parceria entre Fernanda e Juliane. Num mês, Ester foi apadrinhada pela plataforma e passou a ter acesso ao ensino à distância durante as atividades no AEE, uma vez na semana, com duração de uma hora. "Como o atendimento tem uma hora e meia, a meia hora que sobra nós fazemos atividades", diz a professora.
Designer e especialista em educação bilingue para surdos, Fernanda foi alfabetizada aos sete anos, quando passou a frequentar o ensino regular. Filha de pais surdos, a primeira língua que aprendeu foi Libras. Por conta disso, desde a faculdade desenvolve projetos para os surdos. "Participei de alguns projetos de extensão que ensinavam línguas de sinais para ouvintes, e o meu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) foi a criação de uma ama eletrónica para pais surdos, com uma lâmpada que pisca quando o bebé chora".
Ter conhecido a Ester, como conta a professora Juliane, deixou-a mais hun1ana. "Nós ficamos com mais vontade de aprender e ensinar, de fazer com que o outro seja entendido", co1nenta emocionada. "É muito difícil quando você tem wn aluno que você não o entende ou ele não é entendido. Com a Ester, eu vi que avancei bastante nesse sentido e consigo entender cada criança do jeito que ela é".
O curso, que durou um ano e meio, deu à professora o certificado de nível avançado na língua e 1nelhorou a relação com a aluna, que, apesar de tünída, já consegue expressar-se melhor e ser entendida pela professora e pela auxiliar que a acompanha em sala de aula. Sempre rodeada pelos amigos na escola, a auxiliar de sala Elenice da Costa Sentenário passou a acompanhar Ester este ano e repassa para a aluna o conteúdo por meio dos gestos. Na escola, quando perguntei à Ester o que gosta de fazer, ela respondeu que educação física é a sua área favorita e que gosta das aulas que faz no AEE. uma vez na semana, no contraturno escolar.
Mas como funciona a plataforma?
Com funcionalidade há pouco mais de um ano, a plataforrna nasceu logo depois da equipa ser aprovada para participar do Social Good Brasil, um laboratório que tem o objectivo de disseminar ideias que alinhem a tecnologia e o impacto social. Nessa junção, a plataforma Surdo para Surdo - -que liga alunos e professores surdos - ficou entre os quatro projectos aprovados no evento do ano passado.
Com disciplinas disponíveis de libras, português e matemática, os profissionais são escolhidos por meio de uma entrevista que a Fernanda faz para alinhar os objectivos da plataforma com a procura que vem dos alunos.
A ideia da plataforma é simples: o aluno se conecta por meio do site www.surdoparasurdo.com.br com um professor também surdo que oferece aulas à distância, mas em tempo real. "Nós somos um empresa que busca ajudar os surdos no Brasil. Nós fazemos uma pesquisa que as pessoas querem ter aulas de conteúdos específicos e até de reforço escolar", comenta Robson Mafra.
Fonte: its Teens Joinville
Vídeo
Não existe video associado.
Comentários
Para comentar esta reportagem tem de ser um utilizador registado