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Pais surdos comunicam com filhos por meio da música
por porsinal     
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Quarta-feira, 15 de Março de 2017 às 18:47:05
Sentimentos e vibrações de ondas sonoras misturam-se numa forma de comunicação que une alunos surdos aos seus pais e filhos.

O pai toca teclado enquanto a filha canta. Geralmente são louvores, músicas da evangélica Aline Barros. Na melodia com a qual tem intimidade desde os 19 anos, o turismólogo Gutemberg Laurentino encontra um dos momentos de maior conexão com a filha Rebeca. É como se comunicam. Ele, surdo, 39 anos, ela, enérgica, com apenas 9. É quando o desafio da deficiência estreita os laços dos dois. Esse é o tipo de relação que se repete no Instituto Inclusivo Sons do Silêncio, na Avenida Guararapes, no bairro de Santo António, no Recife, em que alunos trocam a Libras para fazer outro tipo de contato com os seus filhos ou com os seus pais.

Gutemberg começou a tocar teclado na igreja, lendo partituras e a conexão com a filha foi natural, durante os ensaios, motivado pela curiosidade da menina, então com 6 anos. Tentou ensinar algumas notas à filha, que logo ficou com os pequenos dedos doridos e decidiu assumir a função de cantora. “Sinto a música sair da ponta dos meus dedos para meu corpo inteiro”, completa.

Flávio Vasconcelos, 29, é outro pai na turma de Carlinhos. Mas, enquanto Milena, de 8 meses, ainda não consegue entender com clareza as produções dele, o estudante de aviação mostra o desenvolvimento ao próprio pai, que é músico e tentou ensiná-lo a tocar viola desde a infância.

Entre os problemas na comunicação que fizeram Flávio desistir e a nova chance para a música na sua vida, passaram-se 17 anos. Hoje, aprende teclado e já teve oportunidade de mostrar a sua aprendizagem ao pai, que ficou satisfeito. “Ele me lembrou de treinar mais, o tempo todo”, brinca.

O encontro dos aprendizes é realizado no Edifício Almare, onde Carlos Alberto, mais conhecido como Carlinhos Lua, que sempre trabalhou com música, passou a acrescentar a experiência em Libras ao currículo musical, depois de anos a lidar diretamente com deficientes físicos, visuais e auditivos num órgão público. “Percebi que as pessoas tinham dificuldade de comunicação e consegui fazer um curso de Libras”, lembra, acrescentando o desejo de dar ainda mais visibilidade a esses artistas, a partir do incentivo, que deve começar dentro de casa.

Oficialmente, Carlinhos Lua é pai de dois meninos e duas meninas; na prática, toma como filhos vários alunos que cruzam sua vida. Após o envolvimento com as libras, o pedagogo, inclusive, já nem consegue conversar sem gesticular com as mãos. A relação com os aprendizes, assim como os ensinamentos, ultrapassa a barreira da sala de aula. “Às vezes a aula termina, saio para ir no médico ou fazer algo e eles me acompanham. É como uma relação de pai e filho”.

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