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O tradutor de Marcelo que ensinou a mulher surda a comunicar
por porsinal     
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Segunda-feira, 26 de Dezembro de 2016 às 18:33:52
Luís Oriola é tradutor de língua gestual e tornou-se conhecido desde que Marcelo Rebelo de Sousa quis tornar a informação de Belém acessível a todos.

Luís Oriola teve um choque ao conhecer a mulher com quem vive há 16 anos, nas praxes de abertura do ano escolar. Filho e irmão de surdos, especialista em língua gestual, não conseguia fazer-se entender nem compreendia o que a jovem surda lhe dizia.

"Foi um choque perceber - tinha 17, 18 anos - que estava com uma pessoa surda que não sabia língua gestual", lembra o jovem, que se tornou conhecido ao aparecer no Palácio de Belém a traduzir em direto e ao vivo o que o Presidente da República dizia.

Falando momentos após gravar as mensagens de Natal que o primeiro-ministro, o secretário de Estado das Comunidades e o Cardeal Patriarca vão dirigir aos portugueses, Luís Oriola evoca o momento em que o chamou o colega - conhecedor da sua história como ouvinte e comunicador gestual - que praxava uma caloira surda.

"Vou todo contente e de mangas arregaçadas", ter com a Joana, "a pensar que ia falar com ela à vontade. Depois, quando tentei comunicar com ela em língua gestual, percebi que ela não estava a perceber. Perguntei-lhe se era surda, disse que sim. Perguntei se me entendia, respondeu que não... ela perguntava-me se eu era surdo, disse que não, perguntou porque é que então eu falava assim... foi muito esquisito, parecia que estávamos a gozar um com outro...", recorda Luís Oriola.

Ouvinte, natural do Montijo, com 35 anos, licenciado em Tradução e Interpretação de Língua Gestual Portuguesa, Luís é funcionário a tempo inteiro na Federação Portuguesa das Associações de Surdos, com a qual Belém firmou uma parceria para tornar a informação acessível a todos.

Exemplo a partir de Belém

"Um dos objetivos" da Federação é que esse trabalho "sirva de exemplo para que outros organismos e entidades, públicos e privados, tenham consciência que a comunidade surda existe e a informação [lhe] deve ser acessível, por uma questão de igualdade e de oportunidades", diz.

"Pertenço a uma família em que vários elementos são surdos, a começar pelos meus pais, o meu irmão (mais velho), o tio materno e os avós maternos na família mais direta [...]. Como se não bastasse, a minha cunhada também é surda e de uma família de surdos, os pais, um tio...", refere Luís Oriola, que nunca pensou viver a tempo inteiro como tradutor gestual.

Oficial miliciano na Força Aérea, abriu a seguir um negócio de apoio domiciliário e pequenas reparações - enquanto ia "adquirir competências" à universidade sobre o que fazia há anos. Tendo aprendido Português com a família paterna, onde a maioria dos membros é ouvinte, comunicar de forma bilingue "foi um processo natural" para ele: "Houve momentos em que pensei que os amigos podiam chamar pela mãe e eu não... mas sempre aceitei bem, sempre foi o meu meio, tive sempre um grande à vontade".

"Considero-me bilingue. Prova disso é a minha mulher ser surda", frisa Luís Oriola, lembrando que foi "uma forte influência para ela aprender" e tornar-se fluente em língua gestual.

Fonte: DN

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