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Sonho olímpico de Marta Caride não esbarra na surdez
por porsinal     
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Domingo, 12 de Junho de 2016 às 13:33:28
A jovem natural de Gaia, Porto, compete contra atletas mais velhas e já marcou presença nos Campeonato do Mundo, em França.

A esgrimista Marta Caride, bicampeã nacional de iniciados em florete, já representou Portugal em Mundiais e Europeus, mas os Jogos Olímpicos Tóquio2020 são a sua grande motivação, em nada esmorecida pela surdez de que padece.

\"Sinto que a surdez é que se adaptou a mim e acho que posso afirmar isso por nunca ter vivido sem ser surda, ou seja, nunca vi \'as duas faces da moeda\'. Felizmente, sou uma pessoa bastante normal na prática da esgrima. Só tenho a necessidade de, durante os jogos, receber indicações do meu treinador [Filipe Melo] de frente, para poder fazer contato visual e perceber o que ele me quer dizer\", revela à agência Lusa a atleta do Sport Clube do Porto, de 14 anos.

Diagnosticada, em 2004, com apenas dois anos, com surdez severa no ouvido direito e surdez profunda no ouvido esquerdo, Marta, prestes a disputar o campeonato nacional de seniores, desvaloriza as dificuldades e afirma \"nem reparar nas pequenas adaptações diárias\".

\"Sempre consegui ter uma fácil compreensão das matérias e disciplinas. A surdez não surgiu a meio da minha vida, mas no início. Não consigo imaginar a minha rotina diária sem as pequenas mudanças que faço, de forma inconsciente, para me integrar nas situações diárias, como, por exemplo, pedir aos professores para darem a matéria na parte da frente da sala, para poder fazer leitura labial\", disse a jovem atleta.

Aluna de mérito, Marta Caride tem-se também destacado no seu desporto de sempre, a esgrima, especificamente o florete. A jovem natural de Gaia, Porto, compete contra atletas mais velhas e já marcou presença nos Campeonato do Mundo, em França, e no Europeus de cadetes, na Sérvia, algo que para Marta é apenas mais um patamar.

\"Nunca me senti intimidada pela idade das minhas adversárias. O que realmente interessa na esgrima é a técnica, a capacidade física e de organizar e decidir o jogo. Não vejo que as minhas adversárias possam retirar muito mais vantagem em relação a mim por terem mais uns anos. Tenho conseguido conquistar títulos ao jogar nos escalões a cima\", recordou.

O ano de 2016 foi novamente importante no panorama desportivo para a atleta de 14 anos. Além das provas internacionais, Marta Caride sagrou-se bicampeã nacional de iniciados, já depois de se ter sagrado campeã nacional de cadetes. A 28 de maio, a esgrimista participará no campeonato nacional de seniores.

A competir desde 2013, e com três treinos por semana, cada um com duração de duas horas e meia, a esgrimista faz um balanço da modalidade em Portugal, expressando a ambição de voltar a levar a esgrima aos Jogos Olímpicos, motivada pela ausência de praticantes lusos no Rio2016.

Aumenta claramente o meu desejo de fazer a diferença e marcar presença nos Jogos Olímpicos, de representar um país que tem reduzidas participações nos Jogos. Claro que isso torna o desejo de ir ainda maior e inexplicável. O nível da esgrima praticada em vários países está bastante acima do que acontece em Portugal”, avaliou.

Anualmente, Marta participa em cerca de 20 provas. A atiradora, que não decidiu se a esgrima será a sua profissão, só tem apoios financeiros quando representa a seleção nacional.

No circuito nacional e nas provas internacionais em que compete pelo Sport Clube do Porto, a atleta é suportada financeiramente pela família, que realça desconhecer os apoios futuros, agora que Marta obteve o estatuto de alta competição.

Ainda assim, a mãe de Marta Caride, Ana Sofia Gomes, valoriza a função social que a filha possa ter na sociedade: “A Marta está a participar em eventos dessa natureza e a visitar escolas, para divulgar não só a prática da modalidade, mas também partilhar a sua história de vida e de superação”.

A concluir, a mãe explica o relevo das próteses auditivas no processo: \"A Marta ainda falava pouco e a prioridade foi tratar da prótese auditiva e fazer terapia da fala. As próteses permitem a amplificação do som, mas não restabelecem a audição a 100%. Sem as próteses, a Marta ouvirá cerca de 30% do ouvido direito, daí a importância da leitura labial\".

Pegando no percurso desportivo de Marta, a família deixa claro que “a surdez não faz diferença”.

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