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Entrevista com Jim Patrick
por porsinal     
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Sexta-feira, 03 de Março de 2017 às 16:16:10
Jim Patrick é engenheiro que tem uma importante atuação na área dos implantes cocleares –que conseguem, em boa medida, devolver a audição a surdos e a pessoas com perda de audição profunda.

Segundo Patrick, muitas crianças com baixíssima audição, se tratadas precocemente com o implante, podem ter as mesmas oportunidades que as demais ao longo da vida. Com o implante uma etapa do processo normal da audição é ignorado: o dispostivo capta sons do ambiente e os transformam em sinais elétricos, que são compreendidos pelo cérebro.

Patrick é engenheiro de formação, fez seu doutoramento na Universidade de Melbourne e trabalha com perda auditiva há mais de 40 anos, sendo atualmente responsável pelo setor de pesquisa da Cochlear, uma das maiores empresas da área.

Qual é o paradigma da perda de audição atualmente? Quais são os tipos para os quais existe tratamento?

Jim Patrick – A questão é complicada. Hoje quase todas as formas de perda de audição são tratáveis com aparelhos auditivos para níveis mais brandos ou com implantes cocleares para uma perda mais severa e profunda. Outras tecnologias podem ser úteis, como um implante que é fixado no osso (Baha, na sigla em inglês).

Tem algum parente ou amigo próximo com perda auditiva? O que o motivou a dedicar sua carreira a essa área?

Eu mesmo tenho perda auditiva (risos). Mas quando eu estava escolhendo que caminho seguir eu não conhecia ninguém. Eu pesquisava na área de comunicação de dados e tentava encontrar um trabalho interessante quando descobri que o professor Graeme Clark [médico e pesquisador da Universidade de Melbourne] estava justamente a precisar desse tipo de tecnologia, que eu estava a desenvolver, para tratar pessoas com perda auditiva profunda. Eu senti vontade de entrar nesse projeto.

Como o implante coclear funciona? Qual é a diferença para outros tipos de aparelhos auditivos?

O implante coclear funciona estimulando o nervo auditivo com pulsos elétricos. Aparelhos auditivos funcionam amplificando o som para compensar a perda de sensibilidade do sistema auditivo. Mas em pacientes com grande perda sensorial e neural um aparelho auditivo comercial não consegue deixar o som alto o suficiente e o implante coclear se faz necessário.

Para que o implante funcione, é necessário que, de alguma forma, o estímulo auditivo “ignore” a membrana basilar e a “tradução” do som que é feita pela célula ciliares, correto? Quão difícil é traduzir essas ondas mecânicas em estímulos elétricos para o nervo auditivo e para o cérebro?

O implante coclear funciona analisando os sinais acústicos usando um microfone, processando esse sinal eletricamente e então gerando sinais elétricos correspondentes aos sinais acústicos que foram captados. Esses estímulos são aplicados diretamente aos eletrodos próximos ao nervo auditivo, gerando a percepção de som.

Existe algum tipo de processamento de áudio que faz com que só os sons normalmente audíveis sejam amplificados, certo? Existe a possibilidade de alguém ouvir sons normalmente inaudíveis para pessoas normais, algo como uma superaudição?

Hipoteticamente uma pessoa com implante coclear poderia ouvir sons de uma frequência muito alta, assim como um morcego consegue –inaudíveis para pessoas com audição normal. Ninguém fez isso ainda, no entanto.

O implante coclear permite que uma pessoa consiga ouvir e apreciar música, assim como as pessoas com audição normal?

Apreciar música usando o implante coclear parece ser difícil e os pacientes têm de trabalhar muito para desenvolver essa capacidade. Mesmo uma pequena quantidade residual de capacidade auditiva acaba sendo de grande ajuda para melhorar a qualidade da música para pessoas com o dispositivo.

O que você pensa de pessoas que são contra o implante coclear e outros dispositivos por razões “culturais”? Existe uma “opressão” por parte das pessoas com audição normal?

A comunidade surda está preocupada com a perda [exclusão da comunidade] de bebês nascidos com déficit auditivo profundo por causa do tratamento com o implante coclear. Essas pessoas têm sido bastante ativas em algumas regiões, defendendo que as crianças deveriam ser criadas sem os implantes, como parte dessa sociedade [dos surdos].

Mas 95% das pessoas nascidas com altos níveis de perda auditiva têm pais com audição normal. Se essas crianças crescerem com o implante, elas terão as oportunidades de uma criança normal. Se os pais escolherem que a criança não terá implante, eles terão de aprender a língua gestual para comunicarem com ela, e a criança terá oportunidades limitadas quando crescer.

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