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Estudo internacional informa sobre o impacto das canções em línguas gestuais apresentadas por artistas Surdos, em Portugal e no Reino Unido
por porsinal     
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Segunda-feira, 01 de Fevereiro de 2021 às 23:42:48
De 2017 a 2021 Joana Pereira realizou um estudo na University College London sobre esta forma de arte, para compreender como é recebida pelos publicos Surdos e Ouvintes nos dois países. Para este efeito, viveu e estudou em Londres e contou com o apoio de inúmeros membros das Comunidades Surdas Britânicas e Portuguesas.

Uma equipa de investigadores portugueses e britânicos, Surdos e ouvintes gestuantes, entrevistou 9 artistas, recolheu 146 respostas a um questionário, e investigou a história destas canções.

Surgiram em Portugal na década de 1980. Os primeiros cantores Surdos profissionais apareceram em 2010. No Reino Unido, as canções surgiram na década de 1910 e hoje há espetáculos de grupo, solos, duetos, teatro musical, e fusão de dança com Canto Gestual.
Qualquer pessoa Surda pode fazer Canto Gestual. Não é preciso ouvir. Alguns artistas são surdos profundos, outros não. Alguns adquiriram uma língua gestual (LGP e BSL) à nascença, outros mais tarde. O nível de audição do artista não é importante para os espectadores Surdos.
Porém, nem toda a gente aceita bem estas canções. Alguns espectadores dizem que música e Surdos não são compatíveis, que a música é auditiva e apenas dos ouvintes. Outros dizem que só aceitam canções de boa qualidade (na língua e técnicas usadas).

Ver a música como algo só dos ouvintes é uma forma de Audismo. Pensarmos que “só as pessoas ouvintes podem criar música” é equivalente aos ultrapassados raciocínios de que “só os ouvintes podem conduzir". Dissociar música e Surdos é ver os ouvintes como superiores.

Cada cultura define o que é a música de forma diferente. As culturas Surdas têm a sua própria definição, e o Canto Gestual faz parte dela. É Deaf Gain porque acrescenta uma nova perspectiva às definições de música actuais.

O Canto Gestual é cultura Surda: demonstra amor pela língua gestual, ilustra as experiências das pessoas Surdas, partilha informação sobre música, canções, e os Surdos como músicos. Sensibiliza sobre as comunidades Surdas, inspira Surdos e ouvintes a tornarem-se melhores gestuantes e alguns a tornarem-se performers.

Os artistas alteram as letras incluindo assuntos Surdos (educação, saúde mental, história e opressão), mostrando como a pessoa Surda sente o mundo. Por exemplo, a palavra "ouvir" na letra escrita torna-se VER ou SENTIR no gesto. Os espectadores gestuantes apreciam as mudanças.

Os bons artistas fazem a canção viajar do mundo ouvinte para o mundo Surdo. Elas são um produto cultural Surdo, uma forma de arte intercultural e de performance política.
Dar às crianças Surdas um contacto precoce com a música faz com que sintam que podem fazer tudo, desenvolvendo um gosto pela música de uma forma Surda.

Os espectadores ouvintes não gestuantes contam que se sentem unidos aos Surdos na audiência e no palco, aprendendo com eles.

Os artistas britânicos usam BSL e SSE (Inglês Gestual), uma forma criativa de gestuar e representar pessoas Surdas diferentes. Os Surdos britânicos têm mais acessibilidade social, sentem-se mais confortáveis, e estão mais abertos à diversidade de registo.

Os artistas portugueses usam apenas a LGP. Querem ser modelos fortes de língua gestual para Surdos e ouvintes. Aqui, a comunidade Surda têm menos acessibilidade, luta por direitos básicos. Mostrar uma única imagem da LGP é uma arma política para educar a sociedade.
O público Surdo e ouvinte sente-se transportado para um mundo de sonho em que todas as pessoas Surdas teriam vidas confortáveis, com boa qualidade de língua gestual e acessibilidade em todo o lado.

Uma boa canção inclui música visual no gesto e chega a todos os tipos de audiência, mas parte de uma perspectiva Surda. Surdos, ouvintes e Surdoscegos experienciam-na de formas diferentes, mas todos podem disfrutar do espetáculo. Este deve fazer uso de:

  • Informação visual, música recebida por vibração táctil e pela via auditiva;
  • Tecnologia: gadgets vibratórios (cadeiras, coletes, etc.); ter o som afinado para transmitir frequências baixas e batidas fortes; dispôr de materiais que conduzam bem as vibrações (chão de madeira, pilares, balões, etc.);
  • Letras em braille, língua gestual apoiada, e visitas tácteis ao palco.

Uma boa canção deve ter elementos visuais fortes, mostrando a música e a história da letra:

  • vídeos projectados; luzes de diferentes intensidades e cores, seguindo os ritmos; cenários ricos, roupas e maquiagem.

Uma boa canção mostra uma abordagem bilingue. Apresenta uma língua gestual com qualidade:

  • Supervisionada por Surdos especialistas;
  • Representando as diferentes formas de ser Surdo na comunidade Surda local, sem perder qualidade;
  • Publicitando o tipo de registo gestual com antecedência;
  • Integrando técnicas de outros tipos de performance Surda: teatro, mímica, poesia, dança e VV (forma cinematográfica de contar estórias);
  • Mostrando emoções e ritmo fortes, na face e no corpo do artista.

Uma boa canção deve também incluir a língua maioritária do país (escrita):

  • Ter as letras originais em legendas acima do palco/vídeos;
  • Trabalhá-las de forma criativa: fontes de cores e formas diferentes; mostrando o ritmo nas palavras (pulsar).
  • Ter 2 textos em palco: a letra original e a tradução criativa, para que todos os espectadores possam apreciar as mudanças culturais e artísticas, e as letras sejam acessíveis a todos.

Vídeo em Língua Gestual Portuguesa (LGP) / Texto em português:
https://www.youtube.com/watch?v=PnDGgsqdRAI

Vídeo em Língua Gestual Britânica (British Sign Language - BSL) / Texto em inglês:
https://www.youtube.com/watch?v=Ve4ZVhHhlas&t=2s

Vídeo

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