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Élida Rafisa
Élida Rafisa
Coordenadora de Gestão Ambiental
Como trabalhar a Educação Ambiental utilizando a Libras para alunos surdos do ensino fundamental
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Publicado em 2009
I Congresso Nacional de Educação Ambiental, p. 786-789
Élida Rafisa
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Resumo

Com a regulamentação da Lei n° 10.436 de 24 de abril de 2002, que se dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, ficou estabelecido à inclusão escolar da criança desde os primeiros anos, seja publica ou privada, com o direito a educação e oportunidades iguais aos que nasceram sem nenhuma deficiência. Tomando por base o a LDB, deverá ser promovida a esses alunos uma escolarização juntamente com os demais alunos. Como estabelecida pelo MEC, a educação ambiental deve ser abordada como tema transversal nas escolas. A dificuldade vista para este sistema de inclusão, é justamente a viabilização dos sinais. A LIBRAS não tem um vasto dicionário de sinais, restringindo-se apenas a interpretações do cotidiano. Neste sentido avaliamos a linguagem em um grupo de adolescentes para detectar possíveis padrões lingüísticos visando a criação de novos sinais que abordem a questão ambiental, para com isso inserir este tema no cotidiano das pessoas surdas . Foram realizadas observações aleatórias em adolescentes entre 10 e 17 anos, na Escola Pintor Lula Cardoso Ayres, no período entre agosto a novembro de 2008. Professores itinerantes, professores regulares, pedagogos, assistentes sociais e psicólogos foram entrevistados. Utilizando o método de pesquisa qualitativa analisou-se a interação dos alunos no momento de aula e de suas produções sinalizadas. Observamos que o processo de construção lingüística é complexo, principalmente pela diferença de modalidade da língua de sinais em comparação à língua portuguesa. Do ponto de vista pedagógico, temos consciência que falta toda uma construção de proposta de ensino pautada no processo de aprendizagem do adolescente surdo. É deveras surpreendente constatar que os instrutores, ainda com formação incipiente para o ensino das disciplinas regulares, utilizem métodos que primam pela comunicação, princípios de métodos ora funcionalistas, constroem situações sociais onde na interação é produzida a negociação de significados.

Introdução

A Constituição das Leis Brasileiras em seu primeiro artigo, trata da igualdade entre os homens com relação aos seus direitos, até há pouco tempo excluía-se os deficientes no processo educacional, tendo-os como diferentes, e só possibilitando aprendizado escolar apenas em alguns casos nas escolas especiais e a quem possuísse um melhor poder aquisitivo. Com a regulamentação da Lei n° 10.436 de 24 de abril de 2002, que se dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, ficou estabelecido à inclusão escolar da criança desde os primeiros anos, seja publica ou privada, com o direito a educação e oportunidades iguais aos que nasceram sem nenhuma deficiência.

Tomando por base o capítulo V, da LDB (Lei de Diretrizes e Bases) de 96, define educação especial como modalidade de educação escolar oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para portadores de necessidades especiais, ou seja, deverá ser promovida a esses alunos uma escolarização juntamente com os demais alunos. A Educação Especial tem passado no Brasil por um momento novo, na qual se faz uma reflexão sobre a educação inclusiva. Isto se deve as novas leis implantadas e nas mudanças de atitude sociais que vem se estabelecendo ao longo do tempo.

O desenvolvimento intelectual não depende do desenvolvimento lingüístico. A criança surda alcança o mesmo nível de desenvolvimento que a criança ouvinte, e as dificuldades encontradas durante a aprendizagem podem ser devido a deficiência no conjunto de experiências vividas pelo surdo. Dentro desse contexto, é necessário considerar a importância da Língua de Sinais para a educação e para o desenvolvimento da pessoa surda por ser sua primeira língua. É através de sinais que o surdo pode se comunicar, compreendendo com mais facilidade o mundo e participando da comunidade em que vive. Para crianças surdas, é muito importante a aquisição dos sinais logo nos primeiros anos de vida, pois a aquisição e interiorização de um código lingüístico é um fator fundamental para a interação social e para a aquisição dos conceitos (MARCHESI,1987).

Um fato que precisa ser destacado é a inclusão dos alunos que necessitam de atendimentos especiais na educação ambiental. Isso tem sido dificultoso, pois não temos disponíveis os sinais dos quais são necessários para a comunicação e crescimento do conceito ecológico dos mesmos. Para buscar uma interação da LIBRAS com a Educação Ambiental, é necessário um relacionamento diário tornando comum o uso de LIBRAS.

Brito ( 199 5) estudou alguns aspectos muito importantes referentes à constituição da LIBRAS. Ela apresentou três parâmetros primários que se combinam: a Configuração das Mãos (CM), o Ponto de Articulação (P A) e o Movimento (M). A Configuração das mãos (CM), é a forma como estão posicionados os dedos, a maneira como está a mão, ou as duas mãos (conforme o sinal). A LIBRAS apresenta 46 configurações de mão, e elas variam muito quanto às posições dos dedos, desde a mão com os dedos todos abertos até os dedos fechados, e variam quanto a posição em que a mão está.

O Ponto de Articulação (PA), é o posicionamento das mãos no espaço em frente ao corpo ou no próprio corpo, ou seja, o sinal em LIBRAS pode ser realizado na região no espaço diante ao corpo, próximo a cabeça, ao tronco, braços, pernas, na própria mão. O Movimento (M), é realizado pela mão (ou mãos) ou pelo movimento dos dedos quando o sinal é produzido. Existe uma série de características que podem apontar o Movimento de forma mais precisa. Outras características, também muito importantes quanto à estrutura da Língua de Sinais, são os componentes não manuais da LIBRAS, tais como a expressão realizada pelo rosto, pela cabeça, pelo rosto e cabeça juntamente.

Apesar da expressão "Educação Ambiental" ter surgido apenas por volta dos anos 70, o Homem faz educação ambiental desde que surgiu à face da Terra. No início, a sobrevivência do Homem estava dependente da sua relação com o meio ambiente. Ao interagir com o mundo que o rodeava e ao ensinar os seus filhos a fazer o mesmo, o homem primitivo fazia Educação Ambiental.

Com o decorrer dos tempos, começa a haver um maior conhecimento do ambiente e uma maior exploração dos seus recursos. As ciências evoluem e os fenômenos naturais começam a ser compreendido. A natureza passa a ter uma relação de subserviência em relação à espécie humana. O conhecimento da natureza e a transmissão desse conhecimento serviam apenas para que o ambiente fosse mais dominado e explorado.

O aparecimento da escola institucionaliza a educação formal. Os programas das várias disciplinas veiculam o conhecimento das várias ciências. Pensava-se que a interligação de todas as ciências iria permitir uma visão completa do funcionamento do planeta, de forma ao homem interagir com ele de forma mais proveitosa.

Com o desenvolvimento da Ecologia e outras ciências afins, torna-se evidente que o conhecimento sobre o meio ambiente é insuficiente, para apoiar tomadas de decisão, neste domínio. Postulou-se que a Educação Ambiental é um elemento essencial para uma educação formal e não formal, e que dela resultarão benefícios para a Humanidade. A educação deveria, simultaneamente, preocupar-se com a conscientização, a transmissão de informação, o desenvolvimento de hábitos e a promoção de valores, bem como o estabelecimento de critérios e orientações para a resolução de problemas. Nesta perspectiva foram estabelecidas estratégias internacionais para ações no campo da educação e formação ambiental.

Como estabelecida pelo MEC, a educação ambiental deve ser abordada como tema transversal nas escolas. Em tempos atuais, a moda é se falar dos problemas ambientais. Existe uma paráfrase nisto tudo: como a pessoa surda, irá saber, qual o significado e valor do meio ambiente? Apenas falar que "não pode" fica difícil para eles, pois perguntariam o porque do não. E como educadores não podemos deixar que o vazio continue nas mentes destes. A inserção da linguagem de sinais no contexto da educação ambiental, tem sido trabalhada a pouco tempo. Viu-se a necessidade das pessoas surdas entrarem neste novo mundo de descobertas. A dificuldade do ensino-aprendizagem com surdos é estritamente igual a de pessoas ouvintes. São pessoas dotadas também do intelecto, então tem capacidades normais de aprendizagem.

A dificuldade vista para este sistema de inclusão, é justamente a viabilização dos sinais. A LIBRAS não tem um vasto dicionário de sinais, restringindo-se apenas a interpretações do cotidiano. Neste sentido avaliamos a linguagem em um grupo de adolescentes para detectar possíveis padrões lingüísticos visando a criação de novos sinais que abordem a questão ambiental, para com isso inserir este tema no cotidiano das pessoas surdas.

Metodologia

Foram realizadas observações em adolescentes entre 10 e 17 anos, na Escola Pintor Lula Cardoso Ayres, no período entre agosto a novembro de 2008. Realizaram-se observações aleatórias com duração de aproximadamente uma hora.

Professores itinerantes, professores regulares, pedagogos, assistentes sociais e psicólogos foram entrevistados. As entrevistas tiveram como principais questões: as dificuldades encontradas no desenvolvimento científico do deficiente auditivo; o trabalho desenvolvido pelos professores em sala de aula; e qual o tipo de abordagem sobre Educação Ambiental tem sido realizada na escola.

Utilizando o método de pesquisa qualitativa analisou-se a interação dos alunos (as) no momento de aula e de suas produções sinalizadas. A análise das produções contribuiu para a classificação dos elementos constitutivos da linguagem e o reagrupamento baseado em analogias para o desenvolvimento de novos sinais. Foram pensadas categorias para a construção desta linguagem, como: 1. Registro quirológio e uso do alfabeto manual; 2. Construção morfológica; 3. Construção sintática e uso da espacialidade; 4. Pertinência semântica/pragmática.

Resultados e discussão

Foi observado que a comunicação verbal dos alunos surdos é muito rica em gírias (igual a adolescentes ouvintes). Valendo disto. Utilizou-se também esta comunicação diária deles, pois a tentativa de comunicação e aprendizagem deles depende da disposição das palavras utilizada por eles mesmos. Vale salientar que para a criação de novos sinais é necessário que os mesmos sejam de acordo com o cotidiano deles e de fácil acesso para eles.

Um exemplo que temos como referencia é o termo "Educação Ambiental", não existe sinal ou código de linguagem manual que possa descrever com clareza este termo essencial para a introdução à educação ambiental. Então foi proposto que o termo educação ambiental tivesse o seguinte sinal: a junção dos sinais estudar e natureza. Assim pode-se obter um novo sinal para o dialogo inicial com alunos surdos sobre a Questão ambiental. A aplicação dos sinais elaborados é única e exclusivamente para o ensino da educação ambiental.

No processo de observação na escola, foi constatado, que o adolescente surdo apresenta-se muito agitado, porém não é hiper-ativa, já que ela não consegue interagir com o grupo, se comunicar e ser entendida. Também foi constatado que os pais na sua grande maioria não sabem lidar com o problema, sem recursos financeiros deixa-os aleatórios ao que ocorre a sua volta. Mas, mesmo com esta iniciativa, o sentido científico ainda se mantém na superficialidade, sabendo da dificuldade de expressarmos alguns contextos. Não há como definir um modelo único para o ensino ao surdo, entretanto, a incorporação da linguagem de sinais na educação ambiental pode contribuir para um melhor processo da construção de conhecimento.

Observamos que o processo de construção lingüística é complexo, principalmente pela diferença de modalidade da língua de sinais em comparação à língua portuguesa. Do ponto de vista pedagógico, temos consciência que falta toda uma construção de proposta de ensino pautada no processo de aprendizagem do adolescente surdo. É deveras surpreendente constatar que os instrutores, ainda com formação incipiente para o ensino das disciplinas regulares, utilizem métodos que primam pela comunicação, princípios de métodos ora funcionalistas, constroem situações sociais onde na interação é produzida a negociação de significados .

Identificamos que muitas competências pertinentes à educação ambiental ainda não foram introduzidas nas disciplinas de ciências, principalmente para os surdos, mas em um diálogo cotidiano conseguiam compreender a mensagem. A própria existência do processo requer o planejamento que se direcione a responder às dúvidas e "erros" dos alunos. A propósito, os dados compilados neste estudo servem de base para a organização de algumas aulas, para que esses conteúdos sejam apresentados de forma explicita.

Bibliografia

BRITO, L. F.; (1995). Por uma Gramática de Língua de Sinais. Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro.

MARCHESI, A. (1987). El desarollo cognitivo y linguistico de los ninas sordos. Perspectivas educativas. Alianza Editorial S. A, Madrid.

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