Pela primeira vez, uma pessoa com surdez profunda fez parte de um júri num processo criminal em Inglaterra. Com a ajuda de legendas e da leitura de lábios, Matthew Johnston, um homem de 54 anos, pôde acompanhar e participar nas deliberações com os outros onze membros do júri, em três julgamentos diferentes num tribunal londrino.
Até hoje, nunca tinha sido permitido a uma pessoa com esse grau de surdez integrar um júri britânico, embora noutros países já tenha acontecido. Segundo o diário The Guardian, a presença de um intérprete de língua gestual na sala do júri comprometeria a regra de estarem presentes apenas 12 pessoas. Mas Johnston, a quem um implante coclear permite ouvir um pouco e falar, convenceu o tribunal de que não precisava do intérprete.
Outro problema que se resolveu foi o de conseguir financiamento para pagar a dois estenógrafos que foram transcrevendo o que se dizia nas audiências, a fim de Johnston poder ler essas transcrições num tablet.
Mais tarde, nas reuniões do júri, o facto de ele ser o jurado presidente em dois dos três julgamentos ajudou-o a perceber o que os colegas diziam, pois não só eles muitas vezes se lhe dirigiam, como evitavam falar uns por cima dos outros. E a mesa em formato redondo também facilitou a sua compreensão.
Os casos envolveram crimes de agressão sexual e violência e a presença de Johnston não parece ter constituído um obstáculo. "Tem tudo a ver com inclusividade, não é?", disse. "É uma grande coisa para mim. Não queremos virar as nossas costas à sociedade, queremos ser parte da sociedade. Queremos sentir-nos incluídos. Acho ótimo poder ser parte de um júri".