Os primeiros Jogos Olímpicos para surdos foram realizados em 1924, em Paris. Participaram 148 atletas de nove países. Cinquenta anos mais tarde, foi inventado o primeiro jogo de computador para cegos, o Touch Me.
Agora, uma portuguesa criou um jogo de cartas que junta surdos, cegos e jogadores sem deficiência na mesma mesa. Susana Magalhães da Costa, de 38 anos, é arquitecta e apesar de nunca ter tido contacto com crianças cegas ou surdas, lembrou-se do conceito e decidiu avançar com o protótipo quando ficou desempregada, em 2011. "Até fiz os pontos em alto-relevo do Braille à mão", conta.
Inclu, assim se chama o jogo apresentado em Dezembro, pode ser jogado por crianças a partir dos 6 anos. Tatiana e Marco, de 8 e 7 anos, já sabem jogar. O objectivo é formar o nome das cores, como magenta ou laranja, com as cinco cartas que têm nas mãos, mais as outras que vão buscar ao baralho. É uma espécie de peixinho, mas com cartas especiais. Cada uma tem escrito as letras do alfabeto, a sua tradução em Braille e, também, no alfabeto manual usado na língua gestual.
Vamos voltar a jogar?
Sentados na biblioteca do Centro de Educação e Desenvolvimento Jacob Rodrigues Pereira, da Casa Pia, em Lisboa, Tatiana e Marco trocam impressões sobre as cartas com letras que receberam. Mário, sentado ao lado deles, não os entende. O rapaz, de 9 anos, nasceu surdo e só comunica através de língua gestual. Mas isso não impede que brinquem juntos.
É através do alfabeto manual que Mário identifica a letra A, finaliza a palavra "amarelo" e ganha uma partida. Mas o vencedor ainda está para ser apurado: será aquele que fizer o maior número de palavras. Bárbara e David, de 9 anos, felicitam-no usando língua gestual. Também são surdos, mas têm um implante coclear que lhes permite ouvir e falar.
Susana Magalhães da Costa explica porque decidiu criá-lo: "Todas as crianças deviam ter contacto com as diferentes linguagens para poderem interagir". Começou o projecto sozinha, depois pediu ajuda a psicólogos, à ACAPO – Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal –, e ao Centro Jacob Rodrigues Pereira, instituição da Casa Pia dedicada à educação de crianças e jovens surdos. "Fizemos aplicações em várias turmas antes de o jogo se tornar uma realidade", diz Paulo Vaz de Carvalho, coordenador da Unidade de Investigação do Centro Jacob Rodrigues Pereira.
O jogo está à venda no site jogoinclu.com.