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A etnopesquisa sociolinguística com alunos surdos: Fundamentos para uma abordagem qualitativa
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Publicado em 2011
Educação, Cultura e Diversidades (Anais em CD-rom). Manaus, Amazônia, Brasil. XX EPENN – Encontro de Pesquisa Educacional do Norte e Nordeste
Omar Barbosa Azevedo
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Resumo

No presente artigo, destacamos um aspecto de significativa relevância para a investigação da comunicação com alunos surdos em sala de aula: a pesquisa sociolinguística com estes alunos, bem como suas professoras, familiares e membros da instituição escolar, beneficia-se da atitude e dos dispositivos da etnopesquisa, tal como a propõe Macedo (2000, 2006). Tanto a coleta de informações quanto a transcrição das mesmas, são procedimentos de pesquisa qualitativa. Os turnos de interação face a face filmados em sala de aula, necessitam ser transcritos com o apoio de tradutores/intérpretes certificados (TILS) de Língua Brasileira de Sinais (Libras) e durante este processo percebemos que a tradução da fala em Libras dos participantes para o português brasileiro escrito, requer o respeito à autoria dos enunciados como um importante critério de rigor. Durante a tarefa da transcrição os TILS não atuam apenas como tradutores e naturalmente exprimem comentários apreciativos que são discutidos, sendo que da nossa perspectiva a autoria destas observações também deve ser respeitada. O conteúdo deste trabalho evidencia o vínculo entre a sociolinguística interacional (Ribeiro e Garcez, 2002) e a etnopesquisa. Concluímos pelo entendimento de que as vozes dos participantes e dos TILS justificam o uso da primeira pessoa do plural no textos que se referem à pequisa, sejam estes artigos, dissertações ou teses, bem como pela necessidade de uma Linguística Aplicada da Libras.

Introdução

Queremos nesta introdução, delimitar os assuntos a serem tratados no presente artigo: primeiro, a sociolinguística interacional (RIBEIRO; GARCEZ, 2002) como uma abordagem qualitativa da interação comunicativa face a face é passível de ser utilizada na pesquisa da comunicação com alunos surdos em sala de aula; segundo, o papel da etnopesquisa (MACEDO, 2000, 2006) como inspiração e fundamentação teórica que não negligencia o contexto social da fala e o acesso a seus âmbitos de qualidade; e, terceiro, nossos motivos para a opção do uso da primeira pessoa do plural nos textos que se referem a uma investigação desta natureza.

No presente trabalho, nossos objetivos são: demonstrar que a sociolinguística interacional, usualmente utilizada para a pesquisa da interação face a face com pessoas ouvintes que se comunicam oralmente, também pode ser utilizada na investigação com alunos surdos usuários da Libras 2, desde que os turnos de conversação sejam traduzidos e transcritos em português; estabelecer uma relação entre a proposta de abordagem qualitativa da sociolinguística interacional com a fundamentação teórica da etnopesquisa; relatar a necessidade de reconhecimento da autoria das falas dos participantes para a realização de uma transcrição rigorosa, bem como o reconhecimento das observações dos TILS e a participação dos mesmos na interpretação dos turnos da fala transcritos; e, finalmente, a partir de toda a argumentação exposta, afirmar que o uso da primeira pessoa do plural é a melhor opção para a redação dos textos que fazem referência à este tipo de atividade de pesquisa.

Para contextualizar nosso tema, devemos partir da afirmação de que a sociolinguística interacional é uma forma de pesquisa qualitativa que se beneficia da fundamentação teórica, dos dispositivos e da atitude humana do pesquisador, inspirados na etnopesquisa, tal como formulada e proposta por Macedo (2000, 2006). Ao nos vincularmos a este aporte teórico, entendemos que pesquisar turnos de fala de professoras com alunos surdos é um exercício de etnopesquisa com o Povo Surdo usuário de Libras e demais pessoas implicadas com os Surdos. A busca do rigor no exercício da pesquisa qualitativa confronta o pesquisador com questões de autoria inerentes à atividade de tradução e de transcrição, bem como da justa consideração com a participação de auxiliares TILS nestas atividades. Este é o contexto do nosso trabalho: a compreensão interpretativa da comunicação com alunos Surdos em sala, evidenciando aspectos favoráveis ao uso da Libras na escolarização destes, especialmente nas séries iniciais; justamente num momento histórico em que a Comunidade Surda brasileira – com apoio de suas instituições, tais como a Federação Nacional para Educação e Integração dos Surdos (FENEIS) – luta pela preservação de Escolas e Classes específicas para crianças e jovens Surdos. O objetivo dos Surdos é preservar o melhor ambiente linguístico para alunas e alunos surdos, que necessitam de uma comunidade linguística para o melhor aprendizado da modalidade escrita da língua portuguesa e a consequente inclusão social posterior – o que significa muito mais que a mera inclusão escolar que isola e exclui linguisticamente a criança surda.

Nossos recursos metodológicos serão: a fundamentação teórica das abordagens aqui mencionadas e a exemplificação do tipo de pesquisa realizada a partir da exposição de alguns turnos de fala transcritos, das observações interpretativas e sua relação com alguns parâmetros de análise tradicionalmente utilizados para compreender o uso social da linguagem em interações face a face. Estamos utilizando uma abordagem qualitativa que pode esbarrar em diversas limitações, tais como a interferência da nossa subjetividade enquanto pesquisadores pouco fluentes em Libras, recorrendo ao auxílio de TILS certificados, ou a interferência da subjetividade dos próprios TILS na atividade de tradução Libras/português. Supomos que estas limitações possam ser objeto de referência, muito mais por críticos deste tipo de abordagem, e que da nossa perspectiva, reconhecendo claramente limites humanos e implicações, procuramos superá-las pela utilização de dispositivos e de atitudes que nos conduzam pela busca do rigor na pesquisa qualitativa.

A sociolinguística interacional com alunos surdos

Queremos abordar primeiramente a pesquisa qualitativa da comunicação com alunos surdos em sala de aula. Ribeiro e Garcez (2002) iniciam a apresentação de “Sociolinguística Interacional”, coletânea de textos da área por eles organizada, com uma pergunta a partir da qual tentam situar esta abordagem de pesquisa da interação comunicativa face a face:

“O que está acontecendo aqui e agora nesta situação de uso da linguagem?” Essa é a pergunta que se fazem os sociolinguistas interpretativos que partem das linhas mestras delineadas pelos autores dos textos desta coletânea, que propuseram que se visse cada um desses pequenos momentos de interação face a face como cenários de construção do significado social e da experiência, passíveis de análise e de interesse sociológico e linguístico. (RIBEIRO; GARCEZ, 2002, p.7, grifos nossos. Aspas do original aqui transcrito).

Não nos surpreende que a “construção do significado social e da experiência” sejam “passíveis de análise e interesse sociológico e linguístico” pois como veremos mais adiante, as interações face a face, acontecem entre interlocutores influenciados por diversos aspectos. Entendemos que a construção do significado social é de natureza subjetiva e intersubjetiva ao mesmo tempo, ou seja, é um fenômeno complexo. Por mais repetido que seja o bordão, voltamos a repeti-lo para deixar clara nossa vinculação com uma abordagem qualitativa da comunicação humana: entender a interação face a face apenas em termos de emissor-receptormensagem-retroalimentação nos parece um reducionismo improdutivo para um exercício de pesquisa que está vinculado à formação do professor-pesquisador, tanto em Linguística Aplicada quanto em Educação. Um olhar simplesmente esquemático como guia de pesquisa em comunicação humana, nos parece ingênuo por desconsiderar aspectos sutis, pois como argumenta Goffman (1964), a compreensão do discurso não deve negligenciar o contexto social da comunicação. Chamando a atenção para alguns dos múltiplos aspectos do fenômeno comunicativo, Ribeiro e Garcez (2002) arrematam a tarefa da sociolinguística interacional:

Uma análise da organização do discurso e da interação social demonstra a complexidade inerente a qualquer tipo de encontro face a face, pois, na condição de participantes, estamos a todo momento introduzindo ou sustentando mensagens que organizam o encontro social, mensagens essas que orientam a conduta dos participantes e atribuem significado à atividade em desenvolvimento ao mesmo tempo que ratificam ou contestam os significados atribuídos pelos demais participantes. (RIBEIRO; GARCEZ, 2002, p.7, grifos nossos).

A sociolinguística interacional se constitui no estudo etnográfico da fala, aqui entendida em seu sentido amplo, ou seja, não apenas a fala oral, mas também a fala expressa em língua de sinais. Queremos salientar que a língua de sinais não é universal e que neste artigo, dizemos ‘língua de sinais’ em oposição a ‘línguas orais’. Também chamamos atenção para o fato de que a fala em Libras não se reduz apenas ao uso do léxico sinalizado. Assim como as demais línguas de sinais, a nossa Libras também é composta pela expressão facial e pelo direcionamento do olhar do interlocutor (como principais parâmetros, dentre outros). Enfim, as negociações de significado que acontecem nas interações comunicativas com alunos Surdos também estão sujeitas às mesmas influências sociais que regulam as trocas linguísticas entre falantes ouvintes de uma língua oral. É a presença do social na comunicação humana que nos remete à necessidade de acesso aos “âmbitos de qualidade” (MACEDO, 2006) que certamente está para além de uma natureza “intrinsecamente linguística”, seja com falantes orais, seja com sinalizadores, pois de acordo com Goffman:

Em um nível de análise, o estudo de turnos de fala e de coisas ditas durante o turno de alguém são parte do estudo da interação face a face. A interação face a face tem seus próprios regulamentos; tem seus próprios processos e sua própria estrutura, e eles não parecem ser de natureza intrinsecamente linguística, mesmo que frequentemente expressos por um meio linguístico. (GOFFMAN, 2002, p.20, grifos nossos. Original de 1964).

No comentário ao primeiro artigo de Goffman na coletânea “Sociolínguística Interacional”, Ribeiro e Garcez (2002) ressaltam o fato de que em 1964, época da publicação original do artigo “A situação negligenciada”, o autor pede insistentemente aos pesquisadores – linguistas, sociolinguistas, antropólogos, sociólogos – que atentem para um aspecto negligenciado por eles naquele momento: “a situação social engendrada na comunicação face a face” (grifo nosso). Desde aquele momento, Goffman estava propondo uma abordagem que não se limitasse à realização de estudos correlacionais entre variáveis linguísticas e sociais, ou de aprofundamento em estudos indicativos de comportamento linguístico por si só. Sobre esta insistência de Goffman quanto ao aspecto da “situação social” da comunicação, Ribeiro e Garcez comentam que este autor:

Descreve a complexidade das variáveis sociolinguísticas envolvidas na interação e assinala a importância do valor atribuído a essas variáveis pelos participantes durante uma dada situação social. Assim, o estudo da relação entre língua e sociedade passa a ser visto a partir do uso da fala em contextos sociais específicos, assumindo um arcabouço teórico bem mais complexo [...] Goffman nos convida a examinarmos a situação social como o cenário da pesquisa – o lugar que tem sido negligenciado – e deixa um alerta aos interessados: uma vez cruzada a ponte entre os estudos da fala e os da conduta social, nos tornaremos todos por demais ocupados para voltar a trás. (RIBEIRO; GARCEZ, 2002, p.13, grifos nossos).

Enfim, já em 1964, Goffman insistia na dimensão social da fala, denominada por ele de “situacional”, e o que devemos fazer, de acordo com sua proposta, é tomar a situação social, enquanto cenário da comunicação e da pesquisa, em vez de negligenciá-la. Neste mesmo artigo, o próprio Goffman exemplifica diferentes situações de enquadramento social do discurso: o falante está conversando com alguém do próprio sexo ou do oposto, com alguém que lhe é subordinado ou hierarquicamente superior, com um ouvinte ou com mais de um, com um interlocutor presente ou com outro alhures ao telefone – para fazer jus à contemporaneidade acrescentamos: no MSN, no Skype, etc., – lendo um script ou espontaneamente, numa ocasião formal ou informal, rotineira ou emergencial, etc. Enfim, todos estes aspectos compõem, na proposta de Goffman, o que Ribeiro e Garcez (2002) denominaram “cenário da pesquisa”.

Podemos ampliar o rol destes cenários comunicativos, fazendo também alusão a outras situações e papéis sociais: o falante poder ser professor ou aluno, ouvinte ou Surdo, pessoa fluente em Libras ou não, cego ou vidente, bem como falantes de uma língua nacional de prestígio ou de uma língua minoritária depreciada. Vale a pena mencionarmos outros contextos de comunicação social trazidos pelas tecnologias da informação, tais como os ambientes virtuais de bate-papo, as mensagens curtas por celular, as redes sociais, nos quais alguns dos aspectos já assinalados por Goffman ainda são válidos: número de participantes a quem a mensagem é dirigida, relação de subordinação, gênero, etc. Este etnógrafo da fala arremata seu entendimento sobre o que já havíamos chamado de aspectos sutis da comunicação:

Note-se que não são os atributos da estrutura social que estão sendo levados em conta aqui, tais como idade e sexo, mas sim os valores agregados a esses atributos na forma em que são reconhecidos na situação imediata, enquanto ela acontece. (GOFFMAN, 2002, p. 16, grifos nossos. Original de 1964).

As regras culturais estabelecem como os indivíduos devem se conduzir em virtude de estarem em um agrupamento, e essas regras de convivência, quando seguidas, organizam socialmente o comportamento daqueles presentes à situação. (GOFFMAN, 2002, p. 17, grifos nossos. Original de 1964).

Partindo das observações de Goffman, queremos assinalar a necessidade de fundamentação teórica e de dispositivos de pesquisa que permitam este exercício ampliado de uma pesquisa sociolinguística que não negligencie o contexto social da comunicação. Com a motivação de considerar os aspectos situacionais das interações face a face, que por assim dizer, constituem o “cenário” da interação comunicativa – para usar esta metáfora tão cara ao próprio Goffman – nós pesquisadores, precisamos recolher as informações etnográficas que constituem a matéria prima da nossa pesquisa, de um modo que nos permita fazer referência aos apectos “situacionais”, bem como nos permita resgatar o sentido do discurso dos participantes e situar o enquadramento do discurso. Sobre o exercício de uma pesquisa qualitativa que não negligencie o aspecto social da comunicação e permita acessar seus “âmbitos de qualidade”, Macedo (2006) comenta:

Entretanto, a partir das orientações sociofenomenológicas das pesquisas qualitativas, as ações e construções humanas deixam de ter um significado idealista estável; devem, frequentemente, ser interpretadas e reinterpretadas de forma situada. Como consequência dessa virada epistemológica, torna-se necessário para o pesquisador tentar colocar-se no posição do ator [social], isto é, fazer um esforço para perceber o mundo do outro a partir do ponto de vista deste; do contrário, jamais terá acesso ao que estamos denominando de âmbitos de qualidade. (MACEDO, 2006, p. 38, grifos nossos).

Com pessoas ouvintes, a sociolinguística normalmente recolhe as falas com videogravações, transcrevendo-as e, eventualmente, mostrando-as aos participantes para verificações posteriores. Com crianças, jovens e adultos Surdos, o uso de filmagens é imprescindível para o registro de aspectos da comunicação sinalizada que não se restringem ao léxico em Libras e que também interferem tanto no sentido do discurso transcrito, quanto em sua interpretação. São estes aspectos: expressões faciais, olhares, gestos culturais que não são propriamente Libras, etc. Por outro lado, os vídeos devem ser vistos apenas pelo pesquisador e por pessoas vinculadas ao projeto de pesquisa, devido à legislação que protege da exposição pública, a imagem de crianças com necessidades educativas especiais. Esta restrição legal é normalmente contornada mediante a autorização dos pais para o uso exclusivamente científico das imagens. A transcrição dos turnos de fala destas videogravações serve para estabelecer o texto da interação a ser interpretado, como habitualmente se faz neste tipo de investigação, bem como para que outros pesquisadores, que não tenham conhecimento da Libras, possam ler e entender a interação do mesmo modo que podem fazê-lo em relação à interação transcrita de pessoas ouvintes que se expressam oralmente.

A etnopesquisa com a comunidade surda

Assim como Goffman (1964) chamou a atenção para a negligência dos aspectos sutis da comunicação, ou em suas próprias palavras, para os “valores agregados” dos atributos sociais envolvidos na interação comunicativa, queremos dizer que para não negligenciar estes aspectos, os pesquisadores devem fundamentar-se teoricamente e utilizar dispositivos de pesquisa que lhes permitam estabelecer um relacionamento humano com as pessoas envolvidas na pesquisa (alunos surdos, professoras Surdas e ouvintes, familiares, funcionários da instituição educativa, etc.) - condição para que os participantes possam se comunicar da forma mais natural possível, uma vez que suas imagens serão capturadas em vídeo. No caso das videogravações com alunos surdos para o exercício da sociolinguística interacional, a atitude dos pesquisadores em campo, o uso do diário de pesquisa e o reconhecimento da autoria das diversas vozes que “ecoam” no processo de transcrição, são elementos fundamentais para não negligenciar os aspectos sutis da comunicação, efetivamente observados e relevantes para a compreensão do que está acontecendo em termos de uso da linguagem em sala de aula com estas crianças.

Nossa opção, como explicamos a seguir, foi a adoção da etnopesquisa como fundamento teórico-metodológico e dos dispositivos de pesquisa qualitativa por ela recomendados. Vejamos alguns motivos para adotar esta posição. Macedo (2006, p.9) nos recorda a origem do termo etno (do grego ethnos, povo, pessoas) e sendo assim, a etnopesquisa é o exercício da investigação qualitativa com o povo, com as pessoas. No nosso caso, o interesse pela educação de crianças surdas situa nossa investigação sociolinguística no contexto da etnopesquisa com o Povo Surdo, ou seja, com as pessoas Surdas usuárias da Libras. Assumindo uma implicação com esta causa pela aceitação de que língua, cultura e identidade são aspectos próprios da Comunidade Surda, que atitude devemos adotar no relacionamento com estas pessoas? Especialmente se somos ouvintes e nosso aprendizado da Libras estará em processo existencial sujeito a uma constante evolução? De acordo com Macedo:

Honestidade, capacidade de persuasão quanto à importância social da pesquisa, compromisso ético, despojamento de vaidade acadêmica, sabedoria em transitar pelas seduções que emergem das relações institucionais, construção de identidades, se possível, e disponibilidade para uma contra-partida efetiva, paralelamente, e/ou a partir da própria pesquisa, parecem-nos alguns pontos importantes para se conseguir um acesso capaz de possibilitar uma etnopesquisa densa e válida, enquanto estudo em profundidade de uma realidade. (MACEDO, 2000, p.149, grifos nossos).

Sejam entrevistas, grupos focais ou videogravações, dispositivos comuns a diversos matizes da abordagem qualitativa em Ciências Humanas, nós pesquisadores sempre teremos que “negociar” o registro destas informações, não apenas para obtê-los em sua materialidade, mas também para influir favoravelmente à abertura e ao interesse dos informantes em participar da pesquisa. Isso significa que necessitamos estabelecer um relacionamento humano com estes participantes, atores sociais como prefere Macedo, e por mais simples e natural que possa parecer, é importante que este relacionamento com os participantes não seja ingenuamente pautado pela falta de critérios, e sim, por diretrizes como as que destacamos acima. A fundamentação teórica que nos pareceu pertinente para a construção de um processo de familiarização e implicação com a Comunidade Surda foi a “Etnopesquisa Crítica e Multirreferencial” (Macedo, 2000), não apenas por concordâncias e afinidades teóricas com as mesmas influências e com o arcabouço teórico de Goffman (interacionismo simbólico e etnometodologia), mas pela efetiva constatação vivencial em campo de pesquisa de que estes são “pontos importantes para se conseguir um acesso capaz de possibilitar uma etnopesquisa densa e válida”. Em nossa experiência de pesquisa qualitativa com a Comunidade Surda, é uma recordação digna de destaque, o interesse e a franca disposição das famílias, das professoras Surdas e ouvintes, e mesmo dos alunos, em participar da coleta de informações etnográficas em vídeo, com o sincero desejo de colaborar com a construção do conhecimento na área. Atestam esta disposição, a totalidade de autorizações assinadas pelos responsáveis dos alunos, para que as filmagens fossem realizadas nas salas de aula da escola que igualmente acolheu o projeto de pesquisa.

Uma cena com alunos surdos e algumas considerações

Mostramos a seguir, uma cena que eu e o TILS, Roberto César Reis da Costa 3, transcrevemos para proceder a análise sociolingüística da interação de uma professora ouvinte com seus alunos surdos. A transcrição, como se faz em investigações da fala oral, consiste no registro dos turnos de fala e, no nosso caso, temos alguns elementos a mais para considerar. Apresentamos primeiro os “personagens” deste “cenário” comunicativo: Rebeca (nome fictício) é a professora ouvinte que participou das filmagens da pesquisa. Gabriel, Rafael e Laura (nomes fictícios) são os alunos Surdos presentes no dia em que a videogravação foi realizada. Rebeca comunica-se com os alunos numa modalidade que não é exatamente Libras, nem é exatamente português brasileiro, mas o que se convencionou chamar de português sinalizado, ou seja, a fala coloquial acompanhada de sinais da Libras. Por isso, em diversas linhas aparece o texto entre aspas: os sinais da Libras utilizados estão em maiúsculas por convenção; e o texto final da transcrição vem entre parênteses, em itálico e negrito. Neste caso, o texto da transcrição geralmente coincide com o enunciado em português oral. Os leitores que não conhecem Libras podem seguir o diálogo pelo texto final anotado em itálico e negrito:

REBECA → ALUNOS: “Agora, como, como, a cobra anda? Como?” (Sinalização simultânea: AGORA/ COMO/ COMO/ COBRA/ ANDAR A PÉ/ COMO)
(Agora, como, como, a cobra anda? Como?)

Gabriel → REBECA: “Ó!”/ Levantou os dois pés.
(Olhe! Com os pés.)

Rafael e Laura: Ergueram os pés do chão.

OBSERVAÇÃO DO TILS: diante da sinalização da pergunta da professora, os alunos responderam corretamente, uma vez que ela elaborou a pergunta com o sinal de “ANDAR A PÉ” e, neste sentido, a resposta dos alunos “com os pés” foi correta em relação à sinalização da professora. Evidentemente, sabemos que a cobra rasteja.

REBECA → ALUNOS: “Como?” (Sinalização simultânea: COMO [expressão facial de interrogação])
(Como?)

Rafael → REBECA: DOIS (mão configurada em “V”) / DOIS (mão configurada em “L”)/ Tocou com a mão esquerda na perna esquerda, depois na perna direita e novamente na perna esquerda/ NÃO.
(Não é com as duas pernas.)

OBSERVAÇÃO DO TILS: o aluno fez uma correção desnecessária ao trocar a configuração da mão em “V” pela configuração da mão em “L”. Provavelmente seguindo o modelo da professora. Com a primeira configuração o aluno estaria usando a referência correta do sinal “DOIS” para o substantivo perna.

REBECA → Rafael: “A cobra...” (Sinalização simultânea: COBRA)
(A cobra....)

Gabriel → REBECA: Vocalizou “um” / UM (com o indicador erguido para o alto)/
(É com uma.)

Rafael → REBECA: UM.
(É com uma.)

Façamos uma pausa para focalizar nossa atenção em alguns detalhes: logo no início deste segmento, a professora ouvinte conjuga equivocadamente um verbo da Libras: COBRA/ANDAR A PÉ (este último, em Libras, refere-se ao andar de uma pessoa). O motivo provável é a utilização do português sinalizado, que não conduz a pessoa a pensar em Libras estratégia tão importante quando pensamos em aprendizagem e utilização de uma segunda língua. Enfim, não estamos aqui para julgar o que pode ter sido um simples descuido, a sociolinguística interacional não se ocupa disso. Queremos atentar para o que acontece após o equívoco observado pelo TILS, durante o processo de tradução que fundamentou a transcrição: por incrível que possa parecer, a resposta de Gabriel é “correta”, pois o aluno talvez tenha entendido a pergunta da seguinte forma: “como uma pessoa anda?”. Afinal, o aluno não ouve, é uma criança surda, e a flexão do verbo sinalizado que ele viu refere-se ao andar humano. Nada mais “correto” que levantar os dois pés como se estivesse dizendo: “Olhe, com os dois pés”.

Exercitando a sociolinguística interacional no caso da comunicação com alunos surdos em sala de aula, encontramos diversas situações como as que transcrevemos e comentamos acima e que apontam para a necessidade de uma Linguística Aplicada da Libras, com a motivação de formar professores e intérpretes educacionais capazes de atentar para as propriedades desta língua, bem como, de pensar a partir de sua organização espaço-visual, evitando organizá-la na sintaxe da língua oral como no exemplo aqui transcrito. Ainda nesta cena, em termos de etnografia da fala e contexto social de comunicação, a resposta do aluno, por pouco não exemplificou um outro conceito elaborado por Goffman, o de footing:

Em 1979, Goffman introduz o conceito de footing, já como um desdobramento do conceito de enquadre do discurso. Footing representa o alinhamento, a postura, a posição, a projeção do ‘eu’ de um participante na sua relação com o outro, consigo próprio e com o discurso em construção. Passa, portanto, a caracterizar o aspecto dinâmico dos enquadres e, sobretudo, a sua natureza discursiva. Em qualquer situação face a face, os “footings” dos participantes são sinalizados na maneira como eles gerenciam a produção ou a recepção das elocuções. Os footings são introduzidos, negociados, ratificados (ou não), co-sustentados e modificados na interação. (RIBEIRO; GARCEZ, 2002, p.107-108, grifos nossos).

O aluno quase corrige a professora e muda o alinhamento da situação. Ele, que é o aluno, responde “corretamente” e de algum modo, fez a professora suspeitar que algo estivesse errado, embora no restante da transcrição, não tenhamos observado qualquer indício que nos fizesse entender que a professora tenha se conscientizado da conjugação equivocada do verbo em Libras. Vejamos a continuação da cena, através da transcrição a seguir. A professora ouvinte três insiste, os alunos corrigem, este segmento finaliza com uma mudança de footing, ou seja, da posição de um dos participantes no discurso. O aluno ensina a professora o que faz a cobra:

REBECA → Gabriel: “Xô vê! Faz aí.” (Sinalização simultânea: VER/ VOCÊ/ Deítico 4 em direção ao solo.) (A expressão coloquial “xô vê” equivale a “deixe-me ver”).
(Xô vê! Faz aí.)

Gabriel → REBECA: UM/ Deitou as pernas ao solo, mantendo o tronco erguido apoiando-se sobre os cotovelos, enquanto olhava para a professora.
(Um: é desse jeito.)

REBECA → Gabriel: “Faz!” (Sinalização simultânea: VOCÊ/ Deíctico em direção ao solo.)
(Faz!)

Gabriel → REBECA: Sentou-se sobre as pernas com os joelhos dobrados/ Olhou para a professora.

REBECA → Gabriel: “A cobra...” (Sinalização simultânea: COBRA.)
(A cobra...)

Gabriel → REBECA (simultaneamente a sinalização “COBRA” da professora): COBRA.
(É a cobra.)

REBECA → Gabriel: “[...] Como ela anda?” (Sinalização simultânea: COMO/ ANDAR A PÉ.)
(Como ela anda?) (novamente sinalizando equivocadamente “ANDAR A PÉ”.)

Rafael: Saiu da cadeira e começou a engatinhar para frente passando entre a professora e Gabriel.

Gabriel → REBECA: Levantou-se e ficou de pé/ Caminhou dois passos para frente/ Ergueu o braço direito acima da altura da cabeça com a mão aberta, palma para cima e os dedos separados.
A partir do contexto apreciado: (Ela sobe em árvore.)

OBSERVAÇÃO DO TILS: Apesar de não termos um sinal claramente configurado, a apreciação da gesticulação do aluno, somada ao contexto do assunto abordado, nos fez pensar que ele quis dar uma mensagem com o sentido “a cobra sobe em árvore”. Isto poderia ser inferido pelo braço direito erguido e a mão aberta, configuração muito parecida ao sinal “ÁRVORE”.

Desde o final dos turnos anteriores, já havíamos visto que o aluno Gabriel muda sua resposta para “É com uma” [perna] e que Rafael copia a mesma resposta no turno de fala seguinte. Não estamos atentando para o caráter de imitação de um aluno em relação ao outro, o que é muito provável, mas queremos a liberdade de suspeitar que Rafael apoia a resposta de Gabriel. É possível que também Rafael tenha se dado conta de que a professora não queria a resposta “Olhe, com os dois pés”. O fato é que com mais três turnos de fala, a professora insiste em saber “Como ela anda?”. Novamente conjugando o verbo sem flexão em Libras, utilizando a flexão para pessoa humana. O ato de Rafael foi sair da cadeira e engatinhar, sua atitude não está em Libras, nem em português, pode ter sido uma simples mudança de posição corporal na sala, mas também nos faz suspeitar que ao ver o sinal “COBRA” ele já tenha se dado conta de que não é nem “com os dois pés” nem “com uma” [perna]. A atitude tomada por Gabriel foi mais contundente: ficou de pé e sinalizou “ÁRVORE” em Libras. O TILS observou que a configuração foi incompleta, faltou a base do sinal, mas este “sotaque” não chega a ser incomum entre Surdos adultos, menos ainda em crianças. O indício mais importante no caso da sinalização “ÁRVORE” de Gabriel foi o movimento do braço para cima, que para o TILS foi fundamento para a tradução proposta, por mais inferencial que possa parecer: “Ela sobe em árvore”. O mesmo aluno que deu a resposta “certa” para uma pergunta equivocada, não chegou a corrigir a conjugação da professora, mas na dinâmica interativa, acabou evocando uma idéia já mais aproximada do deslocamento de uma cobra, mostrando que este animal “sobe em árvore”. Registramos aqui uma mudança de posição dos sujeitos no discurso: o aluno ensinou a professora.

Um leitor mais crítico pode levantar a suspeita de que estamos vendo mais do realmente está registrado em vídeo. Para transcrever é necessário traduzir e nós assistimos ao segmento diversas vezes. É justamente o contexto social ao redor de Gabriel que apoia nossa interpretação. Ao ler as transcrições, uma fonoaudióloga usuária de Libras e um especialista em Educação Especial, levantaram as mesmas observações. Os turnos dos outros alunos, especialmente os de Rafael indicam que eles discordam da professora. Laura é uma aluna que não aparece muito, pois denota ser mais tímida e não toma iniciativa comunicativa na cena. Por outro lado, esteve sempre olhando para a interação face a face da professora ouvinte três com Gabriel e Rafael. Metaforicamente, em seu silêncio, Laura testemunhava que algo não estava sendo completamente compreendido pelos colegas.

Conclusão

As cenas registradas, traduzidas e transcritas mostram um breve momento do cotidiano em sala de aula de uma professora ouvinte, seus dois alunos e uma aluna. De acordo com a verificação documental nos arquivos da instituição educativa, os três alunos tem surdez bilateral profunda, tinham 6 anos de idade no dia da filmagem e estavam cursando o terceiro e último ano do programa de estimulação precoce em Libras da instituição. Estes alunos já se comunicavam em Libras, já conheciam o alfabeto latino e sua utilidade para escrever palavras da língua oral, sendo que no ano seguinte, iriam estudar no ensino fundamental de uma escola bilíngue específica para Surdos. A professora tomou contato com a Libras em cursos oferecidos pela secretaria de Educação do Estado da Bahia, mas tal como temos registrado em diário de campo, ela mesma frisou que seu principal aprendizado desta língua ocorreu com duas auxiliares Surdas que, nesta instituição, ensinam Libras para as crianças em horários específicos.

Para transcrever esta cena registrada em vídeo, contamos com a colaboração de um tradutor/intérprete de língua de sinais certificado pelo exame nacional instituído pela UFSC/MEC que, tal como registrado na nota anterior, também é fonoaudiólogo. Durante o processo de transcrição, procuramos respeitar ao máximo a autoria da fala dos participantes, transcrevendo primeiro itens léxicos sinalizados em Libras com o áudio desligado. Nosso objetivo foi preservar ao máximo a autoria dos enunciados observados, para chegar a uma transcrição de turnos de fala que fosse a mais fiel e rigorosa possível. Depois, transcrevemos as verbalizações da professora em português brasileiro oral e as eventuais vocalizações dos alunos. Seguindo estas etapas, discutimos a forma final de cada turno de fala traduzido/transcrito. Durante este processo, o TILS fez as observações registradas anteriormente no exemplo acima. Sendo este colaborador, fonoaudiólogo e licenciando tanto em Letras com Língua Inglesa, quanto em Letras/Libras, acolhemos com especial atenção as observações dele. Registramos a autoria do TILS nestas observações, pois graças a estas iniciativas, não apenas realizamos uma transcrição rigorosa, como também, atentamos para os detalhes que nos permitiram esta interpretação sofisticada das trocas linguísticas observadas em vídeo.

Entendemos que nossos objetivos foram alcançados: demonstramos que é possível fazer sociolinguística interacional envolvendo turnos de fala originalmente enunciados numa língua viso-gestual sinalizada; estabelecemos a relação entre a etnopesquisa e a sociolinguística, evidenciando que a primeira oferece fundamentos teóricos que possibilitam o acesso aos “âmbitos de qualidade” das interações face a face, justamente porque seus dispositivos permitem o resgate do contexto social da fala dos participantes; relatamos, ainda que brevemente nesta conclusão, a necessidade de rigor no processo de transcrição que viabiliza este tipo de pesquisa, a ser alcançado pelo reconhecimento da autoria da fala dos participantes, bem como das observações feitas por tradutores/intérpretes de Libras;
finalmente, levando em conta os fundamentos teóricos revisados, mais a participação de professores, alunos e TILS na pesquisa, afirmamos que a opção mais adequada para nós pesquisadores, é escrever nossos informes (artigos, dissertações, teses, etc.) em primeira pessoa do plural, uma vez que todas estas vozes participam do próprio ambiente comunicativo da redação científica. Ao dizer “nós” o pesquisador está considerando a si, enquanto autor do projeto da pesquisa, está considerando as pessoas filmadas e o que elas dizem, bem como está considerando a participação dos TILS na compreensão sociolinguística dos turnos de fala transcritos.

A importância de nossos achados reside na compreensão sensível de que a Libras é uma língua e sua apropriação como tal por parte dos professores, especialmente os ouvintes, concorre para um exercício docente responsável na Escola Bilígue (Libras/português escrito) pela qual lutam os Surdos organizados politicamente neste país. Esperamos que este trabalho possa repercutir como apelo por uma Linguística Aplicada específica da Libras, que possa contribuir para a formação qualificada de professores desta língua, bem como, de intérpretes educacionais. Vivemos um momento preocupante em relação a estas aspirações. Uma política de inclusão indiscriminada, que não considera as necessidades linguísticas das crianças Surdas, propõe que elas sejam encaminhadas para classes regulares, onde lá padecerão da exclusão linguística. Desejamos que nosso trabalho possa contribuir para a defesa da Escola Bilíngue, ou seja, da Escola de Surdos em Libras como língua de instrução, fundamental para a inclusão social destas pessoas.

Notas

2 A Libras foi oficialmente reconhecida como língua da Comunidade Surda brasileira, pela lei federal 10.436/02 e regulamentada pelo decreto 5.626/05. Como segmento social, esta comunidade vem lutando politicamente pelo cumprimento da legislação que reconhece e regulamenta o uso desta língua. Dentre outras reivindicações, a Comunidade Surda reclama sua participação efetiva nas decisões que dizem respeito à educação de crianças e jovens Surdos e pelo pleno exercício docente de professores Surdos sinalizadores. Insistimos na grafia de Surdos com “S” maiúsculo para destacar o fato de que se trata de uma minoria linguística, que não se distingue apenas pelo uso da Libras, mas que também reclama a pertença a uma cultura com traços identitários próprios.
3 Fonoaudiólogo e Mestre em Letras e Linguística pela UFBA. Graduando em Letras/Língua Inglesa pela Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Graduando em Letras/Libras pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC, pólo UFBA/EAD). Registramos aqui nossos especiais agradecimentos à participação qualificada de Roberto César Reis da Costa, bolsista de iniciação científica do projeto de pesquisa sobre Políticas Públicas para Educação de Surdos da Dra. Nídia Regina Limeira de Sá, pesquisadora a quem também registramos nossa especial gratidão.
4 Gesto de apontar com o dedo indicador.

Bibliografia

GOFFMAN, Erving. A situação negligenciada. In: RIBEIRO, B. T.; GARCEZ, P. M. Sociolinguística Interacional. Tradução de Pedro M. Garcez. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
Observação: o artigo original de Goffman, The neglected Situation, foi publicado inicialmente no periódico especializado American Antropologist, 66 (6): 133-166, de dezembro de 1964.

MACEDO, Roberto Sidnei. A Etnopesquisa crítica e multirreferencial nas ciências humanas e na educação. Salvador: EDUFBA, 2000.

MACEDO, Roberto Sidnei. Etnopesquisa crítica e etnopesquisa-formação. Brasília: LíberLivro Editora, 2006.

RIBEIRO, Branca Telles; GARCEZ, Pedro M. (Orgs.). Sociolinguística Interacional. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

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