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Lean Fontain Franco
Lean Fontain Franco
Fonoaudiólogo
Método Verbotonal Associado aos Conceitos Bobath para o Acompanhamento de Indivíduos Portadores de Surdez com Comprometimento Motor Associado
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Publicado em 1999
Centro de Reabilitação
Lean Fontain Franco
Resumo

O que se passa a apresentar neste trabalho, é uma associação de técnicas e recursos utilizados para a reabilitação do Deficiente Auditivo (Método Verbotonal) com outras técnicas específicas ao atendimento da criança portadora de Paralisia Cerebral (Conceitos Bobath). Um dos pontos fortes do método Verbotonal, idealizado por Guberina, é a reabilitação da audiocomunicação através de movimentos corporais. Levando em conta que a maioria de nossas crianças com problemas motores associados, são portadoras de Paralisia Cerebral (um transtorno da postura e do movimento), entende-se o porquê do uso do Verbotonal associado ao Bobath. Se vamos trabalhar a criança com movimentos pré-estabelecidos para a estimulação da verbalização e esta criança tem um problema motor, é necessário que primeiramente esta criança seja preparada para este movimento. Através do Método Verbotonal estimula-se a criança a verbalizar e a sentir os fonemas através do movimento corporal e, através dos Conceitos Bobath, inibe-se os padrões anormais e facilita-se os movimentos a serem utilizados pela criança no processo da verbalização e sensação destes fonemas. Fala é movimento, fala é comunicação, mas a comunicação de nossa criança está comprometida em primeiro lugar pelo fator auditivo e em segundo lugar pela inabilidade de fazer trocas construtivas com o meio pela limitação motora. O desenvolvimento da fala está intimamente ligado ao desenvolvimento motor. Portanto devemos conhecer este desenvolvimento a fim de não exigir da criança algo que ela não é capaz de realizar no momento.

Método Verbotonal Associado aos Conceitos Bobath para o Acompanhamento de Indivíduos Portadores de Surdez com Comprometimento Motor Associado

Este trabalho é o resultado de experiências práticas com crianças portadoras de Surdez associada à Paralisia Cerebral, tendo como base principal os conceitos Bobath e o Método Verbotonal.

Dentro de uma nova visão de atuação e aprimoramento profissional, que busca cada vez mais uma especificidade de atendimento, ou seja a especialidade em uma área, que traz por um lado, um aperfeiçoamento teórico-prático para o profissional atuar em determinados casos, mas, por outro, deixa de contemplar este mesmo profissional com a visão necessária para que o mesmo possa aplicar suas técnicas em casos em que fogem de sua área de atuação.

Isto é visto na experiência, através de profissionais que só atendem por exemplo a deficiência auditiva, e quando deparam-se com um problema motor associado acabam por encaminhar esta criança a outro especialista, este por sua vez encaminha a um terceiro pois ele não atende a parte auditiva e somente a motora. Esta visão de especialidade é assumida também por Instituições de atendimento, levando os pais a fazer uma verdadeira excursão pela cidade em busca de atendimento apropriado ao seu filho.

É claro que uma Instituição não pode assumir o mundo com suas pequenas mãos, mas pode contribuir para que todas as outras instituições amadureçam a idéia de fazer um pouco mais além do possível. Dentro desta nova visão o CRESA passou a prestar assistência ao surdo portador de problemas motores e também com problemas de visão subnormal.

Segundo o Professor Mladen Lovric´, um dos idealizadores do método Verbotonal, na Itália já vem também se iniciando um trabalho associado para que crianças portadoras de múltipla deficiência tenham uma reabilitação mais apropriada.

O Método Verbotonal de reabilitação para pessoas que tem problemas severos de comunicação foi desenvolvido na Croácia em 1950 pelo Professor Petar Guberina, um lingüísta que estava particularmente interessado na percepção da fala.

Os procedimentos Verbotonal, seguem os padrões de linguagem observados em bebês que apresentam audição normal. Antes que um bebê possa falar, ele chora, vocaliza e balbucia - ele produz sons. Todo o seu corpo participa na produção e recepção dos sons. Esta atividade vocal não é uma resposta ao seu sentido da audição, embora, seja uma resposta ao seu sentido proprioceptivo. Enquanto o bebê vai amadurecendo, seu jogo vocal torna-se mais sofisticado. Durante este tempo, padrões de ritmo e entonaçãor atividades motoras rítmicas, tanto quanto a parte vestibular, tátil e proprioceptivas contribuem para o desenvolvimento da linguagem e da fala. (Guberina, 1984)

Um dos pontos fortes do método Verbotonal , é a reabilitação da audiocomunicação através de movimentos corporais. Levando em conta que a maioria de nossas crianças com problemas motores associados, são portadoras de Paralisia Cerebral (um transtorno da postura e do movimento), entende-se o porquê do uso do Verbotonal associado ao Bobath.

Linguagem como um meio de comunicação inclui não somente uma porção verbal mas também aspectos não verbais importantes que incluem expressão facial, mímica e gestos.......então chamados de "linguagem corporal" como meio de expressão. Fica então claro que o movimento tem um papel significante na comunicação. O movimento é necessário para a aquisição da linguagem e também para sua produção (Wettstein, 1992).

O Conceito Bobath, é um tipo especializado de Fisioterapia, constituido principalmente pelo trabalho do Neuropediatra Dr Karel Bobath e de Sua Esposa a Fisioterapeuta Berta Bobath, através de 25 anos de pesquisa. Na atualidade o tratamento por eles desenvolvido é bem conhecido e aceito em vários países (Bobath, 1990). O princípio do Conceito Bobath é a inibição dos padrões reflexos anormais e a facilitação dos movimentos normais.

Com o início do trabalho, percebeu-se uma afinidade entre as metodologias, principalmente no que se refere ao aproveitamento do potencial da criança e no respeito ao cronograma das etapas de desenvolvimento.

Entrando finalmente no assunto a ser discutido, se o objetivo é trabalhar a criança com movimentos pré-estabelecidos para a estimulação da verbalização e esta criança tem um problema motor, é necessário que primeiramente esta criança seja preparada para este movimento.

Através do Método Verbotonal estimula-se a criança a verbalizar e a sentir os fonemas através do movimento corporal e, através dos Conceitos Bobath, inibe-se os padrões anormais e facilita-se os movimentos a serem utilizados pela criança no processo da verbalização e sensação destes fonemas.

O corpo, seus movimentos e o sentido vestibular tem um papel importante na reabilitação da criança profundamente surda (Guberina, 1984). Fala é movimento, fala é meio de comunicação, mas a comunicação de destas crianças está comprometida, em primeiro lugar, pelo fator auditivo e, em segundo, lugar pela inabilidade de fazer trocas construtivas com o meio pela limitação motora.

O desenvolvimento da fala está intimamente ligado ao desenvolvimento motor. Portanto deve-se conhecer este desenvolvimento intimamente a fim de não exigir da criança algo que ela não é capaz de realizar no momento.

Desenvolvimento motor normal significa um desabrochar gradual das habilidades latentes de uma criança (Bobath, 1963).

Franco em 1995, relacionou como o desenvolvimento de fala é dependete do desenvolvimento motor global:

O recém nascido está num padrão flexor, ele apresenta um choro monótono, uma vocalização nasal e sons guturais e posteriores porque suas estruturas orais estão imaturas e suas estruturas laríngeas estão relativamente elevadas. A sua única experiência em extensão é o reflexo de moro. Com 1 mês de idade, começa a entrar um pouco de assimetria e o bebê experiência a lateralidade, suas estruturas orais vão gradualmente desenvolvendo-se e ele apresenta eventualmente um pouco de extensão. A vocalização começa pouco a pouco a transformar-se de nasal para oral. Com 2 e 3 meses, mais extensão começa a desenvolver-se, o bebê pode levar a mão a boca e ter uma experiência sensorial (especialmente tátil). Ele pode trazer suas mãos para a linha média. A vocalização oral aumenta. Nesta fase pode-se iniciar a estimulação dos sons orais /a/, /e/, /i/, /o/ e /u/, associando estes fonemas já com algumas manobras facilitadoras, após realizar um relaxamento adequado. Com 4 e 5 meses, o bebê move-se melhor, ele pode rolar de prono para supino. Estes movimentos permitem a ele desenvolver entonação, intensidade e ritmo ou seja os aspectos supra-segmentais da fala. O bebê desenvolve estes aspectos através de um melhor uso do feed-back auditivo. Ele começa a dar " gritinhos" e a respiração torna-se mais profunda. Nesta idade usaremos as manobras facilitadoras para a emissão dos fonemas e vamos além, facilitando o movimento corporal e estimulando a entonação. Com 6 e 7 meses, o bebê desenvolve um melhor controle do corpo e de seus movimentos, pois o equilíbrio deixa de ser função dos braços e passa para a alçada do tronco e pelvis, então ele pode sentar-se e mover-se para prono, supino ou para o lado. Com esta liberação da parte superior do corpo a criança inicia o balbucio. Em supino sons como /k/ e /g/ são observados. Se o bebê está numa posição prona, ouviremos sons como o /p/, /b/ e /m/. A precisão e qualidade da produção dos sons bilabiais aumenta assim que a criança possa sentar com mais estabilidade. Com um melhor desenvolvimento da mastigação, os movimentos de língua e mandíbula aumentam quantitativamente e qualitativamente, então os sons linguais como o /t/, /d/, /n/ e /l/ aparecem. A precisão da articulação aumenta quando inicia-se a dissociação entre língua e mandíbula, isto acontece quando inicia-se uma melhor dissociação corporal. O bebê então faz uma variedade de sons. Ele começa a aprender a fala através de repetição e comparação dos sons. A partir deste momento pode-se entrar com manobras que propiciem movimentos de percepção para a emissão de sílabas e facilitem a aquisição de posturas mais elevadas como o sentar. Os movimentos devem ser explorados dentro da condição motora da criança. Os 8 e 9 meses, são idades importantes, pois o bebê terá que usar suas habilidades intelectuais na linguagem. Ele tem que aprender que tudo tem um nome e uma função. O significado da linguagem é aprendido pela interação com o meio ambiente, manuseando e interagindo com os objetos e pessoas. Através desta interação o bebê aprenderá para que servem os objetos, quais são suas características e como elas se relacionam no tempo e no espaço. O bebê começa a utilizar-se de monossílabos e dissílabos com significado como /mama/, /papa/, /dá/, /tá/. Agora começa-se a associar fala ao significado, as manobras facilitariam os movimentos de percepção das emissões e no caso de conseguir emissões orais, estas já seriam associadas a um significado. Finalmente com 10, 11 e 12 meses a criança começa a produzir todo o sentido de uma frase resumida numa única palavra. É o início da fala articulada, se o bebê inicia a marcha com esta idade, a fala não vai poder ter um bom desempenho ao mesmo tempo que o caminhar pois este demanda muito da criança. O bebê estará mais interessado em explorar o meio caminhando e portanto estará desenvolvendo linguagem interior também. Após esta fase a linguagem irá desenvolver-se gradativamente com cada fase posterior trazendo sua beleza.

Se a criança conseguir chegar neste ponto sem atraso motor, o Verbotonal segue o seu curso normal, se a criança tiver algum problema motor associado, tem-se que partir da idade do desenvolvimento em que ela se apresenta e então utilizar-se das manobras de apoio com mais direcionamento.

Para aplicar este tipo de tratamento comentado neste artigo, é necessário que se tenha um profundo conhecimento tanto da Metodologia Verbotonal, como dos Conceitos Bobath, por isso tem-se o cuidado de não descrever nenhuma das técnicas, que devem ser vivenciadas com o auxílio de um instrutor formado e credenciado para depois serem utilizadas por profissionais então habilitados.

Este estudo realizado, pode ser utilizado tanto para a criança surda Portadora de Paralisia Cerebral, como também para portadores apenas de Paralisia Cerebral e Bebês de Risco ou com atraso no desenvolvimento de linguagem, pois o Método Verbotonal é plenamente aplicável a estas crianças também. Os resultados são realmente bons, principalmente em casos de atraso no desenvolvimento da linguagem, afinal é mais fácil aprender o que se vivência e tanto o Verbotonal como o Bobath partem deste princípio.

Bibliografia

BOBATH, B. 1963. A atividade postural reflexa anornal causada por lesões cerebrais São Paulo, Editora Manole.

GUBERINA, P. 1984. O método verbotonal para a reabilitação das pessoas com problemas na comunicação. Zagreb, Centro Suvag.

BOBATH, B. & BOBATH, K. 1990. Curso Bobath Student´s Papers. London, The Bobath Center.

WETTSTEIN, A. & MÜLLER, H. 1992. The role of the speech-language pathologist in the treatment of cerebral palsy. Berne - Suiça. Apostila distribuída durante o XV Congresso da Associação Brasileira de Paralisia Cerebral.

FRANCO, L.F. 1995. Early Normal Speech and Language Development. Palestra apresentada durante o Advanced Speech Terapy Bobath Course, Curitiba-Pr.

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