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Flávia Machado
Flávia Machado
Professora e Tradutora Intérprete de Libras/Português
Particularidades lexicais, semânticas e pragmáticas de conceitos abstratos na tradução e interpretação de Língua portuguesa-Libras-Língua Portuguesa: Estudo comparativo entre sujeitos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina
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Publicado em 2010
9º Encontro do Círculo de Estudos Linguísticos do Sul - CELSUL, Palhoça. Anais do X Encontro do Círculo de Estudos Linguísticos do Sul. Palhoça: UNISUL. v. 21. p. 1-14
Flávia Machado
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Resumo

The practice of Libras’ translator-interpreter involves skills that can be understood from the contributions of Cognitive Linguistics/Cognitive Semantics. This paper presents a study conducted in a dissertation, which examines particular lexical, semantic and pragmatic abstract concepts of Portuguese (PL) in the translation processing of sign language. It aims at identifying the processes of cognitive-linguistic translation of the PL-Libras-PL by translators/interpreters and deaf subjects (RS and SC). The focus is on pragmatic competence that supports the logic of their speech and semantic competence from linguistic features of the speakers and the interlocutors’ discourses, elaborating constructions that express abstract concepts that have corresponding lexical in Portuguese, but not necessarily in Libras. It applies an empirical study in controlled conditions, using resources of video recording, software ELAN-Annotator Eudico Language manipulation, and transcription processes specific for Libras.

1. Introdução

A presente proposta visa analisar o processo de interpretação-tradução de conceitos abstratos de língua portuguesa (LP) para Libras, por tradutores e intérpretes de língua de sinais (TILS); e de Libras para Libras e de Libras para LP escrita por sujeitos surdos. O objetivo da pesquisa é analisar as particularidades lexicais e semânticas dos conceitos abstratos da LP nos processos tradutórios da língua de sinais (LS). A pesquisa, de caráter empírico, em situação controlada, envolve sujeitos oriundos de duas regiões do Sul – Rio Grande do Sul e Santa Catarina, com a participação de seis tradutores-intérpretes graduandos e graduados, que atuam com acadêmicos universitários surdos do ensino superior. O processo de pesquisa implica em: identificar os processos cognitivos da LS através da ação mediada do tradutor-intérprete; transcrever a LS para a LP usando o software ELAN; verificar, através da análise linguístico-cognitiva, as competências necessárias para a tradução bilíngue do tradutor-intérprete de LS e LP; analisar as disposições da prática regional do ato tradutório na mediação do intérprete da LS; identificar aspectos interlinguísticos intervenientes na ação do tradutor-intérprete da LS e da LP e na interpretação apresentada em Libras pelo sujeito surdo; avaliar a competência pragmática nos processos de compreensão e interpretação da intenção comunicativa do locutor, que mantém a lógica de seu discurso, e a competência semântica a partir das marcas linguísticas do discurso do locutor e do interlocutor, ao elaborarem construções que expressem conceitos abstratos que possuem correspondentes lexicais na língua portuguesa, mas não, necessariamente, em Libras.

Esta investigação caracteriza-se como um estudo empírico em ambiente controlado, ao mesmo tempo em que se serve do que a literatura teórica e aplicada disponibiliza sobre os aspectos linguísticos e cognitivos (de linguagem em uso) do referido sistema de comunicação. Para a transcrição e análise do corpus obtido, utilizar-se-á o ELAN – Eudico Language Annotator – software de transcrição de vídeo e áudio de LS – destacando-se trilhas e glosas com ênfase nas particularidades lexicais dos conceitos abstratos, no ato da tradução e interpretação para/de Libras.

Com essa análise visa-se responder às seguintes questões: (1) Como se dá a tradução de conceitos abstratos para Libras? (2) Como as escolhas no ato de interpretar e traduzir conceitos abstratos afetam a interpretação do sujeito surdo? Das respostas (1) e (2), que competências e habilidades os TILS devem desenvolver para tornar mais eficaz sua atividade?

2. Língua de sinais e Libras

Há algumas décadas, não se considerava o fato de as LSs serem uma língua natural ou uma língua com semelhanças a qualquer outro idioma de língua oral. Durante muito tempo na lingüística, acreditou-se que os sinais seriam apenas mímicas, pantomimas e/ou gestos isolados. Segundo Quadros (1997), as LSs são utilizadas pelas comunidades surdas no mundo inteiro e apresentam as mesmas características que as línguas orais. Todavia, as LSs são captadas através de experiências visuais das pessoas surdas e, portanto, nesse aspecto, se tornam distintas das línguas orais. Para as autoras:

As línguas de sinais são sistemas lingüísticos que passaram de geração em geração de pessoas surdas. São línguas que não se derivaram das línguas orais, mas fluíram de uma necessidade natural de comunicação entre pessoas que não utilizam o canal auditivo-oral, mas o canal espaço-visual como modalidade lingüística. (QUADROS, 1997, p.47) 1

Fernandes, definindo as línguas espaço-visuais, que se diferenciam das línguas oralauditivas, esclarece:

As línguas são denominadas oral-auditivas quando a forma de recepção não grafada é a oralização. De outro lado, são espaço-visuais quando a recepção se dá pelo sentido da visão. Nos dois casos, mesmo diferentes os canais de recepção, cumprem a função de permitir a comunicação e a interação entre membros de um grupo cultural. A língua a ser utilizada – oral-auditiva ou espaço-visual – é adequada para o caso de comunicação entre ouvintes e surdos, respectivamente, pois atingirá os canais de recepção lingüística específicos a cada sujeito, em seu contexto cultural. (2003, p.17).

Para o estudo proposto, examinam-se aspectos da LS e sua estrutura. Segundo Quadros (1997, p.119), “as língua de sinais [sic] envolve movimentos que podem parecer sem sentido para muitos”, mas que, para os surdos, “significam a possibilidade de organizar idéias, estruturar pensamentos e manifestar o significado da vida [...]”. Dessa forma, os sujeitos surdos poderão estabelecer uma forma de comunicação mediante a aquisição da LS. Como as línguas orais, a LS se constitui distintamente conforme suas culturas nacionais, permitindo a construção natural das identidades culturais que as comunidades surdas estabelecem. Ou seja, “uma língua de sinais não é transparentemente inteligível por surdos monolíngues de outra língua de sinais” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 32), haja vista que cada região tem a sua língua construída culturalmente. Por exemplo, segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 32), no Brasil, “o sinal manual para NÃO, apesar de ser considerado icônico”, poderá apresentar um significado completamente diferente para a Libras, como também para a LS americana (ASL). Com isso, os sinais NÃO e ONDE serão diferenciados pela marcação das expressões de negação e de interrogação. O sinal manual NÃO tem o significado de negação no Brasil, já para a ASL o sinal manual NÃO representa o significado ONDE, conforme a ilustração a seguir (ver figura 1 e figura 2).

Sabe-se que a LS exerce forte influência sobre a construção da identidade surda. Entre os membros da comunidade existe a consciência de que o sinal deve evocar a ideia ou representar um significado cultural em sua comunidade. A língua traz a marca da identidade de seus falantes e representa elemento fundamental de coesão na construção intersubjetiva de traços identitários. Nesse sentido, a Libras tem um papel fundamental na comunidade surda, como uma comunidade linguística, esta definida por Gumperz (1984) como:

todo aglomerado humano caracterizado por uma integração regular e frequente por meio de um conjunto de signos verbais compartilhado por todos os indivíduos desse aglomerado, distinto de outros aglomerados semelhantes por causa de diferenças no uso na linguagem (GUMPERZ, 1984. p. 289).

Há uma gama de variedades linguísticas na Libras. O usuário dessas variedades compreende os significados de cada sinal, de forma a contextualizar o que a comunidade surda manifesta em sua cultura. Já uma língua oficial é uma entre as variedades linguísticas de uma nação. Segundo Heredia (1989), numa comunidade linguística:

seus membros têm em comum ao menos uma variedade de língua e também normas de uso correto, uma comunicação intensiva entre eles, repertórios verbais ligados a papéis e unificados por normas, enfim, uma integração simbólica no interior do grupo ou do subgrupo de referência. (p.179).

Essas normas constituem um sistema de convenções que se representam por “glosas com palavras do português nas transcrições” (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 37-8). No sistema de transcrição da LS, em alguns casos, é utilizada uma notação: quando são “antecedidos de um asterisco, a sentença ou o sinal é agramatical, ou seja, não é possível de ser gerada/o na língua de sinais[...]”, sendo representados de uma forma simplificada na Libras. Conforme as autoras, principalmente “o movimento, a mudança da expressão facial e a mudança na direção do olhar” dificultam a precisão da transcrição. Por isso, criaram-se símbolos específicos para a Libras, associando o uso das expressões que identificam um único sinal.

A construção das sentenças possui regras próprias, seguindo representações mentais das percepções visual e espacial, como, por exemplo, a sintaxe em língua portuguesa – LP e LS:

LP: O menino vai para casa.
LS: [Menino casa ir].

A aquisição de um sistema linguístico supõe a organização/reorganização de todos os processos mentais do sujeito. Como afirmam Quadros (1997) e Góes (2002), a linguagem constitui-se em instrumento fundamental para o conhecimento humano e, com isso, o homem pode superar o limite da experiência sensorial, individual, e formular generalizações ou categorias. Pode-se dizer que, sem a linguagem, o homem não terá formado o pensamento abstrato. A linguagem, na sua forma estruturada de língua, apresenta-se, assim, como fator de formação da consciência, permitindo pelo menos três mudanças essenciais à criatividade consciente do homem: ser capaz de duplicar o mundo perceptível, assegurar o processo de abstração e generalização, e ser veículo fundamental de transição e informação (BERNARDINO, 2000; BRITO, 1995).

A LS é uma língua de caráter natural para a comunidade surda, sendo a primeira língua (L1). Quadros e Karnopp (2004, p. 30) definem a língua natural, “como um sistema lingüístico legítimo e não como um problema surdo ou como uma patologia da linguagem”. As autoras afirmam (apud Stokoe, 1960) que: “[...] a língua de sinais atendia a todos os critérios lingüísticos de uma língua genuína, no léxico, na sintaxe e na capacidade de gerar uma quantidade infinita de sentenças”. Stokoe (1960, apud QUADROS, 1997, p. 84) ressalta que:

A LIBRAS é adquirida pelos surdos brasileiros de forma natural mediante contato sinalizadores, sem ser ensinada [...], consequentemente deve ser sua primeira língua. A aquisição dessa língua precisa ser assegurada para realizar um trabalho sistemático com a L2, considerando a realidade do ensino formal. A necessidade formal do ensino da língua portuguesa evidencia que essa língua é, por excelência, uma segunda língua para a pessoa surda.

Porém, a aquisição da segunda língua (L2) para a comunidade surda é gerada através do contato com o usuário ouvinte da LP, sendo a Libras, para o ouvinte, sua L2.

3. Conceitos abstratos em LS: contextualização, compreensão e tradução

Entendemos que as línguas orais e auditivas são complexas em seus aspectos linguísticos, culturais e de uso. Para Dascal (2006, p. 106-107) a fala é entendida desta forma:

[a] fala normalmente é utilizada para transmitir uma interpretação pragmática, e o sucesso na comunicação é medido pela capacidade de o destinatário alcançar essa interpretação. Isso, quando ocorre, é o que o termo 'compreensão' geralmente abrange. Observem que a compreensão é sempre uma compreensão pragmática. Não se trata apenas de compreender as palavras do falante (determinando o significado da sentença), nem de compreender tais palavras em sua específica referência ao contexto da elocução (determinando o significado da elocução), e sim de alcançar a intenção do falante ao proferir tais palavras naquele contexto (determinando o significado do falante).

A interpretação consiste em encontrar 'pistas' de significados implícitos, em entender a polissemia dos itens lexicais que expressam conceitos abstratos e em determinar, em cada enunciado, o que expressam em função do contexto linguístico-situacional. Além disso, há uma capacidade individual de estruturar conhecimentos, numa habilidade própria de organizar as experiências cognitivas. Bernardino (2000, p. 66) ressalta que “a lingüística cognitiva temse dedicado ultimamente [...] [à] produção lingüística com relação aos aspectos processuais ou representações mentais da mente”. Em função disso, quando o tradutor-intérprete de Libras e LP se depara com a tarefa de sinalizar conceitos abstratos pode surgir uma variedade de problemas. Por exemplo, para certos conceitos lexicalizados em LP não há sinais equivalentes em Libras. Além disso, há a dependência estrita a contextos específicos em que o TILS atua, como, por exemplo: jurídicos, clínicos, pedagógicos e entre outros. Numa tradução de LP para Libras, encontramos conceitos abstratos que recebem diferentes interpretações, como, a título de exemplo, o de REFLETIR. Esse conceito tem seu significado dependente dos contextos de uso. Em Libras, para o verbo ‘refletir’ há um sinal isolado, conforme a figura abaixo (ver figura 3 2).

Esse sinal, realizado nessa glossa, faz parte de um léxico específico, sujeito a variedades regionais. Veja-se o enunciado (a):

“[...] a crise econômica refletiu em alguns nichos do mercado[...]” 3

Esse enunciado, no ato de tradução para Libras, é primeiramente compreendido;

depois, interpretado e só, então, é realizada a escolha de sinalização, que terá a seguinte sintaxe:

(a-Libras) “problema sério economia prejudicar dentro trabalho + pessoas” 4

Na sinalização o item lexical 'prejudicar', é configurado desta forma (ver figura 4) 5.

As particularidades do conceito abstrato REFLETIR e sua expressão lexical em LP ficam evidentes em (a), provocando uma tradução guiada por uma estratégia semânticopragmática. Isso se deve ao fato de o léxico da LS ter propriedades diferenciadas do léxico das línguas orais e vice-versa. Segundo a hipótese (versão fraca) de Sapir-Whorf, aceita pelos estudiosos de Linguística Cognitiva, a língua influencia a maneira de pensar de uma cultura. (SAPIR, 1958). Portanto, não se pode negar que o modo de pensar do usuário de LP diferencia-se daquele do usuário de Libras, e esses universos cognitivos permanecem em diálogo constante no ato tradutório.

O uso da datilologia – “soletração manual [...] direta do português, é uma forma de representação manual da ortografia do português, envolvendo uma seqüência de configurações de mão que têm correspondência com a seqüência de letras escritas do português”. (QUADROS; KARNOPP, 2004, p. 88) – é um recurso de mediação entre esses universos linguístico-cognitivos. Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 88), “o léxico nãonativo contém palavras em português que são soletrados manualmente, e essas formas podem ser consideradas na periferia do léxico da língua de sinais brasileira”. Os TILS soletram palavras do português em uma variedade de contextos, pois, quando surgem termos de ordem técnica e não há um sinal equivalente, tomam emprestado o código linguístico da LP. Entretanto, conforme Bernardino (2000, p. 66), “o problema está em explicar como esses conhecimentos [conceitos] se integram para formar a cognição como um todo”. Por isso, os TILS necessitam compreender o conceito para que a tradução se consolide. Porém, em muitos casos de tradução não há recursos diretos. Assim, a autora enfatiza:

[...] as pessoas não podem entender palavras que ouvem somente selecionando significados a partir de uma lista do léxico [...]. Elas devem criar significados a partir de informações que acreditam serem comuns entre elas e o falante. A compreensão da palavra, então, pode ser vista como uma mistura de seleção e criação de significados. Em um processo centrado no contexto, os ouvintes usam a situação e o contexto da sentença para a compreensão do que o falante quer dizer. Quanto mais informações o contexto provê, maior é a confiança conseguida na construção do significado. (CLARK, 1992, apud, BERNARDINO, 2000, p. 66-67)

Compreender a complexidade de um conceito abstrato em uma tradução é fundamental para que os TILS realizem uma tradução contextualmente adequada, evitando traduções equivocadas e problemas de comunicação delas decorrentes. No caso específico desta pesquisa, enfatizam-se as competências de compreender, interpretar e traduzir itens lexicais da LP, em geral altamente polissêmicos, que expressam conceitos abstratos relativamente complexos, mesmo para os usuários de LP como L1.

4. O profissional tradutor-intérprete de LS: competências e habilidades

Na medida em que a Libras passou a ser reconhecida como língua de fato, os surdos passaram a ter garantia de acesso social, por meio dos TILS. Instituições de ensino e empresas começaram a facilitar acesso ao profissional intérprete de LS. Quadros afirma: “O processo histórico deste profissional se deu a partir de atividades espontâneas que foram sendo valorizadas enquanto atividades de trabalho no decorrer do tempo em que os surdos foram construindo seu espaço de cidadania” (QUADROS, 2002, p.13).

As competências e habilidades que envolvem a tradução, assim como a aplicação de modelos teóricos ligados à formação dos tradutores-intérpretes da LS, pautam-se, conforme Albir (2005), pela seguinte questão:

Embora qualquer falante bilíngüe possua competência comunicativa nas línguas que domina, nem todo o bilíngüe possui competência tradutória. A competência tradutória é um conhecimento especializado, integrado por um conjunto de conhecimentos e habilidades, que singulariza o tradutor e o diferencia de outros falantes bilíngües não tradutores. (p. 19).

Essa competência se vincula a um “processo tradutório”, pois, segundo Robinson (2002. p. 133):

a tradução é um ciclo constante de aprendizado que passa pelos estágios do instinto (disposição indistinta), experiência (trabalho no mundo real) e hábito (“prontidão para a ação”) e, dentro da experiência, pelos estágios de abdução (conjecturas), indução (criação de modelos) e dedução (regras, leis teorias).

O tradutor-intérprete faz a mediação entre ouvintes e surdos, em diferentes interações com um ou mais interlocutores, tais como: consultas médicas, audiências jurídicas, trâmites ou outros eventos que necessitam de uma mediação comunicativa, constantemente enfrentando e resolvendo problemas novos de maneira analítica consciente. (ROBINSON, 2002, p. 133).

Mesmo com o crescente investimento na formação de intérpretes de LS, persiste uma grande confusão sobre o seu real papel. Muitas pessoas ainda consideram a interpretação de LS como um serviço caritativo ou uma habilidade simples, comparável à mímica. Outros tantos se autodenominam intérpretes sem nunca terem passado por qualquer formação que os capacite e os habilite para a complexidade da atividade tradutória e de mediação. Acredita-se que é imprescindível para o intérprete ter competências tradutórias bilíngues, mas verifica-se que nem toda pessoa considerada bilíngue possui competência tradutória, como bem alerta Albir (2005).

Além disso, o intérprete da LS precisa ser fluente em ambos os sistemas linguísticos, já que precisa traduzir em tempo real (interpretação simultânea) ou com pequeno lapso de tempo (interpretação consecutiva) uma língua sinalizada para língua oral (ou vice-versa), ou então, para outra língua sinalizada (JAKOBSON, 1969). Assim, segundo Pereira e Russo (2008, p. 12), o intérprete de Libras:

precisa ter seu espaço próprio, que suas funções não sejam mescladas e confundidas com as dos professores, monitores, auxiliares ou qualquer outra função. Nossa tarefa é de sermos mediadores lingüísticos e culturais em diversas instâncias, atuando como intérpretes de conferências em palestras, seminários, congressos e congêneres; intérpretes acompanhantes em entrevistas, trâmites burocráticos, consultas médicas e jurídicas, tradutores quando os surdos sinalizam e temos que colocar na língua escrita e também como intérpretes educacionais nas instituições de ensino.

Com as pesquisas crescendo na área, podemos problematizar o que temos encontrado nos depoimentos publicados em obras de referências na área da surdez, que deixam transparecer uma desconfiança sobre a capacidade dos intérpretes de Libras e LS. Identificamos que uma das limitações é a falta de avaliação do trabalho dos intérpretes de LS. Para Sá (1999), persiste a necessidade de mais pesquisas sobre a “fidedignidade” nas atuações dos intérpretes, pois é considerado fundamental que os intérpretes da LS sejam capacitados em suas habilidades e competências.

Em suma, a competência tradutória abrange um amplo “conhecimento especializado”, gerado por uma soma de competências e habilidades, “que identifica o tradutor e o distingue de outros falantes bilíngues não tradutores.” (ALBIR, 2005. p. 15).

5. Conceitos abstratos: contribuições da Linguística Cognitiva (LC)

Conceitos projetam a realidade de acordo com nossas experiências. Uma categoria conceptual agrupa um conjunto de entidades e as representa. Segundo Delbecque (2008):

o mundo não é uma realidade objectiva em e por si mesma. Ela aparece-nos sempre de uma forma ou de outra por meio de nossa actividade que consiste em categorizar com base em nossa percepção, nos nossos conhecimentos, no nosso estado de espírito; em suma, a partir de nossa condição humana. Isto não quer dizer que a realidade assim criada seja subjectiva, uma vez que conseguimos chegar a acordo sobre as nossas experiências intersubjectivas. Com efeito, viver em sociedade significa partilhar experiências comuns. (p. 35)

Essa visão é chamada de “experiencialista” (cf. LAKOFF, 1987; FELTES, 2007). Conceitos como FRUTA, MESA, LIVRO envolvem processos de categorização que são resultado da interação de nossa percepção, conhecimentos socioculturais e situacionais (de uso). Embora pareçam menos problemáticos, eles implicam, em sua construção e uso, em uma série de operações cognitivas e acordos com a comunidade de fala. Outros conceitos como VIOLÊNCIA, LIBERDADE, AMOR, VIDA, JUSTIÇA (cf. FELTES, 2007) são mais complexos em sua construção e aplicações a contextos de fala, pois são afetados pela natureza das instituições sociais, jurídicas, religiosas, entre outras, as quais variam sobremaneira de cultura para cultura e de subcultura para subcultura em uma mesma comunidade. São considerados abstratos à medida que implicam mais operações de abstração, em que crenças e valores introduzem não apenas maior variação, mas também mais negociações de sentido em eventos de fala.

Seguindo a proposta da Teoria dos Modelos Cognitivos Idealizados (LAKOFF, 1987), conceitos e categorias têm sua estrutura motivada por modelos cognitivos e culturais. Estes são construções que organizam o pensamento através das relações humanas e culturais, porque temos o corpo que temos e interagimos no mundo de modo a compartilhar certas experiências. Como construtos, são idealizados porque não “representam” o mundo de forma objetiva, são relativamente estáveis, mas sujeitos à variação em função da dinâmica das relações socioculturais historicamente determinadas. Ou seja, “[o]s modelos, portanto, são o resultado da atividade humana, cognitivo-experiencialmente determinada, são resultado da capacidade de categorização humana” (FELTES, 2007, p. 89). E mais: os “MCI são utilizados para organizar diferentes domínios de experiências, para entender o mundo, para dele construir sentido”. (p. 127). A autora, fundamentando sua posição a partir de Lakoff (1987) e Lakoff e Johnson (1999), salienta que:

[...] cada indivíduo pertence, simultaneamente, a diferentes grupos, em diferentes níveis simultâneos de “localidade” (mais alta ou mais baixa numa hierarquia; mais imediatos ou menos imediatos). Ao mesmo tempo, não existe um repositório separado de conhecimentos lingüístico ou cultural fora de qualquer comunidade e lingüística. Entretanto, os esquemas individuais, a serem construídos, agregam detalhes individuais relativamente ao que é percebido como normas ou formas culturais relevantes, principalmente porque o indivíduo é, em certo nível, consciente ou “conscientizável” de seus próprios desejos, percepções e sentimentos, existindo à parte de e em contradistinção a essas comunidades que imputam as normas e formas de linguagem e cultura (2007, p. 90).

As categorias conceptuais, por sua vez, ao inscreverem-se na língua tornam-se categorias linguísticas, de modo que, conforme Delbecque (2008):

a comunidade “tradu-las” em signos linguísticos. Uma visão mais abrangente da língua como sistema de signos ultrapassa o tipo de ligação entre a forma e o significado de um signo linguístico. Este é então ligado ao “conceptualizador” humano e ao mundo que é o seu, isto é tal como ele o vive. O conceptualizador, as categorias conceptuais e os signos linguísticos estão ligados entre si (p. 35).

Essa interligação é mais complexa quando se examinam conceitos abstratos. Mais ainda quando se colocam em contato sistemas linguísticos, por processos tradutórios. Isso porque se as categorias linguísticas de um sistema e outro estão afetas aos processos de conceptualização/categorização cognitiva e socioculturalmente orientados e, ainda, pela hipótese Sapir-Worf, pelo fato de que sistemas linguísticos influenciam a forma como o “mundo” é organizado, deve se colocar em relevo as negociações realizadas quando sujeitos que têm Libras como L1 são introduzidos num universo de significações que parte da LP, reorganizando-as de acordo com as categorias conceptuais e linguísticas dessa L1.

Segundo a semântica experiencialista, que é o fundamento da Teoria dos Modelos Cognitivos Idealizados: “[o] significado não é uma coisa; ele envolve o que é significativo para nós. Nada é significativo em si mesmo. A significatividade deriva da experiência da atuação como um ser de um certo tipo em um ambiente de um certo tipo.” (LAKOFF, 1987, apud FELTES, 2007, p. 126),

Nos estudos sobre a significação, sobretudo naqueles que se dedicam à investigação de conceitos abstratos, destaca-se o fenômeno da polissemia: um item lexical pode ter vários significados. Conforme Lakoff (1988, apud FELTES, 2007, p. 182-183):

Os sentidos se multiplicam porque a mente constrói na experiência, numa experiência com os outros, uma experiência reconstruída pela memória dessas experiências ou pelo sentido das interações que geraram esses sentidos, que os transformaram e que, de um modo ou de outro, em diferentes graus de consistência, orientaram nossa vida interior e nossos modos de convivência.

De acordo com Croft (1999, apud FELTES, 2007, p. 183), a “análise polissêmica, por sua vez, é sustentada pela idéia de que “dois usos de uma forma são semanticamente relacionados um com o outro por um processo semântico [...]”. Na mesma sequência, para Deane (1998, apud FELTES, 2007, P. 183), “as propriedades da polissemia surgem diretamente das características da cognição humana”, e fundamenta seu posicionamento em três problemas encontrados na teoria a polissemia: (1) seleção de sentido, (2) parentesco semântico e (3) identidade da categoria. O problema (1) está intrinsecamente ligado à ambiguidade lexical, ou seja, “reflete claramente a flexibilidade do pensamento humano (FELTES, 2007, p. 183). O problema (2) vincula-se a “uma função da estrutura da memória humana”: “[u]m pequeno conjunto de estruturas conceituais básicas relaciona sentidos ao conectá-los ao conhecimento compartilhado do mundo pelas pessoas [...]”(p. 184). O problema (3) revela “a dificuldade em determinar se a polissemia envolve uma palavra ou duas”. Em suma, a polissemia envolve as “questões de flexibilidade cognitiva, organização da memória e categorização”(p. 185). Feltes (2007, p. 185), segue o ponto de vista de Deane (1998), concluindo que “a polissemia nada mais é do que uma conseqüência natural da interação e da flexibilidade das estruturas conceptuais.”

Em linhas gerais, é esse o ponto de vista que tomamos da LC para a condução de nossa investigação sobre processos tradutórios que envolvem conceitos abstratos, na interação entre LP-Libras-LP.

6. Método e procedimentos

A pesquisa caracteriza-se como estudo empírico por meio de um experimento em situação controlada, com projeto aprovado por Comitê de Ética. Como não se trata de testar métodos de tradução, mas de verificar quais são os recursos explorados, por tradutoresintérpretes proficientes, na tradução de textos, originalmente elaborados em LP, para o sistema da Libras, numa situação de comunicação com surdos, não se lança mão de grupo de controle e grupo experimental, nem de etapas pré e pós-teste. As etapas do procedimento empírico são as seguintes:

Elaboração de textos pragmaticamente contextualizados: Esta etapa envolve a construção de um conjunto de textos contextualizados com condições mínimas, necessárias e suficientes, para que sejam compreendidos pelo tradutor-intérprete, interpretados e, então, traduzidos para Libras. Ou seja, devem ser suficientemente contextualizados para garantir sua coerência semântico-pragmática. Em sua constituição semântico-lexical há conceitos abstratos que possuem, em LP, um lexema estabelecido, em geral, polissêmico. Por essa razão, serão explorados lexemas cujo sentido varie em cada enunciado, podendo, num mesmo texto, empregar-se o mesmo lexema com sentidos diferentes, de acordo com a intenção comunicativa de cada enunciado em que aparece. Os conceitos VIOLÊNCIA (‘violência’), AUTONOMIA (‘autonomia’); RADICAL ('radical') são candidatos para o experimento.

Seleção dos sujeitos participantes do experimento: Do experimento participam dois grupos de tradutores-intérpretes de Libras, proficientes, graduandos ou graduados em nível acadêmico superior, habilitados conforme a legislação 5.6.26 de 20 de dezembro de 2005, sendo, cada grupo, proveniente de regiões diferentes: Rio Grande do Sul/Caxias do Sul e Santa Catarina/Florianópolis. Os sujeitos surdos, em número de seis, têm como L1 Libras e, como L2, LP (modalidade escrita) e são provenientes, como os tradutores-intérpretes, das regiões referidas. Todos serão graduandos ou graduados em nível acadêmico superior.

Condução do procedimento de tradução: São seis as etapas previstas:
(1ª) Os tradutores fazem a tradução dos textos elaborados em sintaxe da LP para a sintaxe da Libras 6.
(2ª) O sujeito surdo, ao final de cada tradução, deverá expressar em Libras o que compreendeu da tradução.
(3ª) O sujeito surdo, em seguida, expressará em LP, em texto escrito, o que compreendeu da tradução.
(4ª) Os tradutores farão a tradução dos textos utilizando a sintaxe da LP aplicada aos sinais em Libras.
(5ª) O sujeito surdo, ao final de cada tradução, deverá expressar em Libras o que compreendeu da tradução.
(6ª) O sujeito surdo, em seguida, expressará em LP escrita, o que compreendeu da tradução.

Registro do processo descrito em (3): O experimento é filmado utilizando-se três câmeras digitais, sendo: uma com ângulo direcionado para o surdo; outra, com ângulo direcionado para o TILS; e a terceira captura a imagem dos interlocutores simultaneamente, conforme a simulação ilustrada pela figura abaixo (ver figura 5).

Transcrições de LP e Libras 7: Dentre os softwares disponíveis, foi escolhido para esta pesquisa o ELAN, sistema criado pelo Instituto Max Planck de Psicolinguística. Nas palavras de Quadros e Pizzio (2009. p. 22), o ELAN (EUDICO – Linguistic Annotator):

é uma ferramenta de anotação que permite que você possa criar, editar, visualizar e procurar anotações através de dados de vídeo e áudio. Foi desenvolvido [...] com o objetivo de produzir uma base tecnológica para a anotação e a exploração de gravações multimídia. ELAN foi projetado especificamente para a análise de línguas, da língua de sinais e de gestos, mas pode ser usado por todos que trabalham com corpora de mídias, isto é, com dados de vídeo e/ou áudio, para finalidades de anotação, de análise e de documentação destes.

O ELAN também permite “inserir vocabulário controlado, tipos lingüísticos [e] trilhas de transcrição”. De acordo com Quadros e Pizzio (2009, p. 23), “[a] primeira coisa que deve ser feita ao iniciar um documento [...] no ELAN é definir quais as trilhas de transcrição que serão necessárias para um determinado projeto [...] determinar o tipo lingüístico que [vai] aplicar a cada trilha de transcrição [...]”. A figura abaixo (ver figura 6) ilustra a forma como o ELAN se comporta para gerar “anotações” no sistema de transcrição:

Essas anotações permitem que sejam geradas trilhas de acordo com as próprias anotações e os tempos dos vídeos. Assim, “[t]odas as trilhas são indicadas na linha do tempo e no visor interlinear, mas três destas trilhas podem ser indicadas adicionalmente no visor do subtítulo (QUADROS; PIZZIO, 2009, p. 25). As autoras identificam uma trilha como um “conjunto das anotações que compartilham das mesmas características, por exemplo, uma trilha que contém a transcrição das glosas de um sinalizante, uma outra trilha que contém a tradução dessas glosas e assim por diante”. O ELAN trabalha com dois tipos de trilhas:

[...] trilhas independentes que contém as anotações que são ligadas diretamente a um intervalo do tempo; [e] [...] trilhas dependentes, que contém as anotações que são ligadas às anotações de uma outra trilha (isto é, às anotações de sua "trilha-mãe”). Não são ligados geralmente diretamente à linha central do tempo. Na linha do tempo e nos visores interlineares, à etiqueta de uma trilha dependente é atribuída a mesma cor que a etiqueta de sua trilha-mãe. (QUADROS; PIZZIO, 2009, p. 26)

No sistema de transcrição da Libras, é necessário adicionar 'trilhas' que definem os atributos com que se irá trabalhar. Em nosso corpus de pesquisa serão focalizados os sinais empregados pelos TILS para expressar os conceitos abstratos a partir dos textos elaborados e aqueles empregados pelos sujeitos surdos em sua compreensão expressa em Libras. Assim, para “[c]ada trilha é atribuída a um tipo lingüístico. Cada tipo lingüístico especifica um número de restrições que se aplicam para todas as trilhas atribuídas a esse tipos” (QUADROS; PIZZIO, 2009, p. 27). As autoras descrevem que para o agrupamento dessas trilhas há restrições, as quais chamam de 'estereótipos'. Os estereótipos apresentados são os seguintes:

Nenhum: a anotação na trilha está ligada diretamente à linha central de tempo, isto é, a anotação é incorporada em uma trilha independente. Subdivisão do Tempo: a anotação na trilha-mãe pode ser subdividida em unidades menores, que, por sua vez, podem estar ligadas a intervalos menores. Note que não há nenhuma lacuna de tempo permitida, isto é, as unidades menores têm que imediatamente se seguir.[...] Subdivisão Simbólica: similar à subdivisão do tempo, exceto que as unidades menores não podem ser ligadas a um intervalo de tempo [...]. Entretanto, pode haver espaços entre as anotações da trilha dependente. [...]. Associação Simbólica: a anotação na trilha-mãe não pode ser subdividida, isto é, há uma correspondência um a um entre a anotação da trilha-mãe e a anotação da sua trilha dependente.

A linha das glosas será seguida pelos sinais regionais do RS e de SC, visando à comparação das variedades linguísticas que há na Libras. Registrar-se-ão em trilhas as informações das particularidades lexicais na expressão de conceitos abstratos. Isso nos permitirá uma sistematização dos registros e das análises naquilo que é objeto desta pesquisa. É importante ressaltar, com relação à questão do modelo de transcrição, que McCleary e Viotti (2007) propõem outro modelo no qual existem diferentes trilhas para a anotação de cada movimento – trilha de sinal manual, glosas, unidades entonacionais, posição da cabeça, linha dos olhos e outros. Porém, o sistema de Quadros e Pizzio (2009) é perfeitamente adequado para os objetivos da pesquisa. A partir do sistema de transcrição que o ELAN oferece, há duas etapas, quais sejam:

(1ª) TRANSCRIÇÃO DA LIBRAS E LP: constarão registros selecionados em cada trilha – (1) o uso lexical, (2) a interpretação semântica e (3) os conceitos abstratos utilizados nos textos.

(2ª) ANÁLISE DOS DADOS COLETADOS: a partir dos registros, será realizada a análise do processo de tradução dos TILS e de compreensão pelos sujeitos surdos.

7. Considerações Finais

A pesquisa que é objeto deste artigo certamente contribui para aspectos fundamentais da competência tradutória, especificamente nas particularidades da tradução-interpretação de conceitos abstratos, cuja expressão em LP e Libras é tão variada quanto complexa, dadas as diferenças linguísticas nos níveis lexicais e sintáticos entre os dois sistemas. Ao focalizarmos um recorte de questões semântico-pragmáticas problemáticas relativas, mesmo que numa pequena amostra, a conceitos abstratos, pretende-se ampliar o corpo de pesquisas no âmbito da competência tradutória LP-Libras-LP.

Notas

1 Em todas as citações, foi mantida a ortografia original do texto fonte, quando em LP.
2 Figura extraída do material didático do curso básico de libras, de modalidade em EAD (MACHADO, no prelo). Ressaltamos que o sinal configurado conforme a figura 3 pode ser interpretado, dependendo do contexto, como: IMAGINAR e SONHAR.
3 Enunciado extraído de palestra proferida na semana acadêmica de Administração na UCS, a qual foi traduzida, na oportunidade, pela mestranda, co-autora desta comunicação.
4 Tradução do português para Libras, pela mestranda.
5 Figura extraída do material didático do curso básico de libras, de modalidade em EAD (MACHADO, no prelo).
6 A tradução fará uso apenas dos recursos linguísticos que a gramática da Libras oferece, não sendo empregadas técnicas que há na tradução oral.
7 Segundo Quadros e Pizzio (2009), a transcrição é a forma de representar os discursos, as falas e os sinais, através de uma lista de símbolos especiais. Conforme Quadros e Pizzio (2009), “[p]or meio da transcrição, podemos estudar todos os níveis de análise de uma língua (fonológico, morfológico e sintático). No caso das línguas de sinais, o estudo lingüístico é recente e se comparado às línguas orais”. (p. 20). Conforme advertem Quadros e Pizzio (2007 apud 2009, p. 21): “a grande dificuldade ainda está nos sistemas de notação, ou seja, nas formas de representar os sinais nos sistemas de transcrição de dados (ver McCLEARY, L. VIOTTI, E (2007)). Isto porque cada grupo de pesquisa utiliza uma notação diferente ou adaptações de um mesmo sistema de notação, de acordo com seu objeto de estudo, dificultando assim a padronização e a possibilidade de armazenar seus trabalhos em um único banco de dados, acessível a qualquer pesquisador.”

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