porsinal  
ArtigosCategoriasArtigos Científicos
Natália Almeida
Natália Almeida
Especialista em Educação Especial
Guia-Intérprete de Libras: Formação e atuação deste profissional na cidade de Fortaleza
0
Publicado em 2012
III Congresso Brasileiro de Pesquisas em Tradução e Interpretação da Língua Brasileira de Sinais, Universidade Federal de Santa Catarina
Natália Almeida
Ádila Silva Araújo Marques
Adriana Moreira de Souza Corrêa
Mariana Farias Lima
  Artigo disponível em versão PDF para utilizadores registados
Resumo

Conviver com a surdocegueira e se defrontar com um mundo totalmente diferente e muito rico de experiências, exigindo conhecimento e técnicas específicas para que se possa desbrava-lo com mais habilidade e eficiência (GRUPO BRASIL, 2005). A profissão de guia-interprete foi recentemente reconhecida ela Lei Nº. 12.319 de 1° de setembro de 2010. Este trabalho tem por objetivo identificar a atual formação dos GILS atuantes no Município de Fortaleza e verificar a necessidade de formação específica a essa atuação; Divulgar a guia-interpretação aos TILS do Estado do Ceará para assim buscarem competências a desenvolver nesta nova área de trabalho em nosso estado e atender aos surdocegos, inclusive já matriculados nas escolas bilíngues de Fortaleza. O nível da organização da literatura foi específico a ser tratado: como sites e documentos que contém os dados referentes a especificidade do tema a ser tratado. Para obtenção dos dados foi aplicado um questionário a técnica de análise de conteúdo, em que foram identificadas as seguintes categorias: Identificaram-se os núcleos temáticos: Formação em cursos específicos para atuação profissional e Cursos ofertados para formar Guias-intérpretes de LIBRAS (GILS). A análise dos núcleos temáticos demonstrou que dos entrevistados, a maioria dos guias-intérpretes recebeu um curso específico, porém ainda há um guia-intérprete atuando baseado em conhecimentos empíricos.

Introdução

O trabalho do guia-intérprete possibilita para a pessoa surdocega a interação e acesso a lazer, trabalho, educação, objetos, pessoas e para que os surdocegos tomem decisões de forma autônoma e assim, viva plenamente seu direito de cidadão. A profissão de guia-interprete foi recentemente reconhecida ela Lei Nº. 12.319 de 1° de setembro de 2010.

O guia-intérprete deve ser apto a realizar a guia-interpretação sendo esta, um trabalho muito importante e para ser eficiente é necessário que seja encarado com respeito e ética. O guia-intérprete é o elo do surdocego com o mundo. As pessoas com surdocegueira necessitam de formas específicas de comunicação para terem acesso à educação, lazer, trabalho, vida social, entre outros. Faz-se necessário ao trabalho do guia-intérprete que é um profissional capacitado para possibilitar a pessoa com surdocegueira uma vida independente tanto para se locomover como para se comunicar.

O guia-intérprete é o profissional que domina diversas formas de comunicação utilizadas pelas pessoas com surdocegueira, podendo fazer interpretação ou transliteração. Transliteração é quando o guia-interprete recebe a mensagem em uma determinada língua e transmite à pessoa surdocega na mesma língua, porém usa uma forma de comunicação diferente acessível ao surdocego, por exemplo: o guia-intérprete ouve a mensagem em língua portuguesa e transmite e Braille. Interpretação é quando o guia-intérprete recebe a mensagem em uma língua e deve transmiti-la em outra língua, por exemplo, o guia-intérprete ouve a mensagem em língua portuguesa e transmite em LIBRAS tátil.

Conforme Maria Margarida Rodriguez, 2009, “El guía-interprete además de ser um facilitador lingüístico y cultural entre usuários de diferentes lenguas o sistemas comunicativos, ayuda a conectar a La persona com surdoceguera com su entorno, actuando como sus ojos e sus oidos. De esta manera él promueve La integración y participación independente de la persona sordociega em su entorno.

Uma das funções do guia-interprete, que é muito importante, é a contextualização que informa para a pessoa surdocega as condições do ambiente, as pessoas presente, descrição de objetos e pessoas. A contextualização deve respeitar o tempo e a importância e a finalidade a que isto será empregada. Primo deve-se informar o geral e depois o mais específico. Se for preciso descrever um auditório, primeiro explicar o ambiente e localização que deverá ocupar e só depois descrever quem está presente.

É indispensável ao guia-interprete responder as perguntas da pessoa com surdocegueira porque isso denota seu interesse e quais informações ela esta necessitando. Para ter clareza de tudo, precisa ser informado pelo guia-interprete, as pessoas que entram, que saem e barulhos como chuva, telefone, palmas, sirenes.

O guia-interprete também informa as expressões e reações das pessoas, porem sem com isto fazer juízo de valor. Na descrição deve-se ter o cuidado de não comentar opiniões próprias buscando ser o mais fiel e discreto possível. Jamais podemos usar frases como “fulana está mal vestida”, mesmo que a pessoa esteja com uma calça laranja uma camisa Pink e sapato verde! A mensagem deve ser: “fulana veste uma calça laranja, sapato verde e camisa Pink.”

Para que a comunicação seja também confortável, deve ser avisado o nome e sinal do guia-interprete que esta com ela estendendo essa apresentação todas as pessoas que venham dirigir-se a pessoa surdocega. Ao sair, se precisar deixá-la sozinha por um tempo, deixar a pessoa próxima de um ponto imóvel, como uma mesa ou coluna e avisar que esta saindo.

O guia-interprete acompanha o surdocego durante os intervalos, idas ao banheiro, e refeições, devendo acomodá-la primeiro para depois dizer o que tem para comer e em seguida servi-la. O trabalho do guia-intérprete possibilita junto á pessoa surdocega a interação e acesso a lazer, trabalho, educação, objetos, pessoas e tome decisão autônoma e assim, viva plenamente seu direito de cidadão.

O guia-interprete tem um trabalho muito importante e para ser eficiente é necessário que seja encarado com respeito e ética. Lembrando que ele é o elo do surdocego com o mundo.

Metodologia

Estudo descritivo, realizado no Município de Fortaleza com sete guias-intérpretes vinculados à instituições promotoras de formação e escola que atende alunos com surdocegueira. Inicialmente foi feita uma pesquisa bibliográfica e posteriormente foram realizadas entrevistas nas dependências da Universidade Federal do Ceará (UFC), no Instituto de Educação de Surdos do Ceará (ICES). As informações foram analisadas mediante Análise Temática.

Sobre o questionário:
Qual a sua formação como guia-intérprete?; O que dificultou o seu aprendizado? Justifique; As entidades que você trabalha recebem surdocegos? Você acredita ser importante uma formação específica?; Quais sugestões você daria aos próximos cursos que possam contribuir para um melhor aprendizado?; Como foi o seu rendimento no curso?

Resultados e Discussão

Identificaram-se os núcleos temáticos: Formação em cursos específicos para atuação profissional e Cursos ofertados para formar Guias-intérpretes de LIBRAS (GILS). Em relação ao primeiro núcleo temático há sete guias-intérpretes atuantes em Fortaleza, somente seis possuem formação como Guia-intérprete. Atualmente está matriculada no Instituto de Surdos do Ceará uma aluna surdocega e do corpo de intérpretes da escola, um destes profissionais foi remanejado para traduzir as aulas e, portanto, este profissional tem hoje desempenhado as funções de guia-intérprete mesmo ainda não possuindo curso específico para isso.

Formação Específica  
Curso de Formação em Guia-intérprete AHIMSA (SP) 03
Curso de Capacitação Governo do Estado do Ceará 03
Formação Empírica 01

Quadro 1: Formação dos guias-intérpretes na cidade de Fortaleza.

Dos sete entrevistados, três precisaram buscar formação por conta própria fora do Estado, outros três respondentes relataram que sua formação ocorreu em parceria com o Governo do estado que proporcionou pagamento das despesas para cursos de capacitação de seus servidores, sendo dois deles em curso realizados no estado da Bahia. Somente uma entrevistada não possui nenhum curso ou treinamento peculiar ao trabalho de GILS mesmo tendo uma aluna surdocega em sua sala de aula.

Esta intérprete relata de seu anseio em saber e aprender mais a cerca deste assunto, pois tudo que sabe partiu de conversar com uma colega GILS que nas primeiras semanas de aula ia para escola estagiar como GILS e aproveitava este tempo para passar algumas orientações.

Quanto ao segundo núcleo temático, agora existem quatro turmas de formação e aperfeiçoamento de tradutores e intérprete de Libras na Associação de Tradutores e Intérprete do Ceará (APILCE), uma turma de Formação de Intérprete de libras no centro de Atendimento ao Surdo (CAS) e uma turma de Bacharelado em tradução em Letras Libras no polo da Universidade Federal do Ceará (UFC) e uma pós-graduação em Libras. Nestes cursos não há uma disciplina de guia-interpretação. Neste núcleo foram ainda identificados dados relevantes que fogem ao objetivo empreendido nesta pesquisa, quanto ao relacionamento entre o guia-intérprete e aluno surdocego, o domínio das diversas formas de comunicação que devem ser conhecidas por este profissional, mas importante serem expostos.

Conclusão

O estudo revela que investigar e buscar qual é atual formação profissional é necessária na busca de qualidade na prestação de serviços às pessoas surdocegas. Considerar tais colocações leva a crer ser necessária uma mudança nas grades curriculares dos cursos de formação e graduação existentes para vislumbrar um cenário de profissionais capacitados e qualificados. A inclusão de disciplinas nos cursos de pós-graduação podem proporcionar aos futuros especialistas em LIBRAS noções básicas do trabalho do guia-intérprete sendo este um primeiro passo para adentrar a esta profissão.

A vontade de levar aos tradutores intérpretes de LIBRAS ao mundo do surdocego que é percebido pelo tato foi alcançada e percebida com a análise dos dados colhidos e assim é contínua a busca dos intérpretes pela qualidade em prol da excelência do serviço sempre criando e adaptando novas possibilidades sendo respaldada pelos grandes teóricos em suas atuações.

Bibliografia

GESSER, Audrei. Libras que Língua é Essa? São Paulo: Parábola, 2009.

GIACOMINI, Lilian;MAIA,Shirley R. Surdocego Pós-linguistico. Grupo Brasil de Apoio ao Surdocego, São Paulo,2005.

GOLDFELD, Márcia (Org.). A criança surda: linguagem e cognição numa perspectiva sócio-interacionista. São Paulo: Plexus, 1997.

LABORIT, Emanuelle. O Voo da Gaivota. São Paulo: Best Seller, 1994.

PLAZAS, M.M.R. Papel Del guia-interprete, Vi Congresso Nacional de La situacion Del sordo em Colombia, I Ecuentro Latino Americano de Interpretes e Guias-interpretes de Lengua de Senas, 7,8,9 y 10 de Julio de 2009- Bogota-Colombia.

QUADROS, Ronice Muller. O Tradutor Interprete de LIBRAS. Secretaria de educação especial. Brasilia, MEC;SEESP,2004.

STROBEL, K. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis: UFSC, 2008.

SKLIAR, Carlos (Org.). A surdez: um olhar sobre as diferenças. 5. ed. Porto Alegre: Mediação, 2011.

Comentários

Outros Artigos deste Autor

Não há mais artigos deste autor.